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Arte e literatura na colônia

A produção intelectual e artística dos colonos, assim como os outros aspectos da vida colonial, era controlada pelo governo português. Os governantes da metrópole não tinham interesse no desenvolvimento de uma arte e uma literatura próprias na América; aliás, procuravam impedir que se desenvolvessem.
Nesse propósito, o governo português era favorecido pelo fato de haver pouca comunicação entre os diversos núcleos coloniais, devido à grande distância entre eles.
Essas circunstâncias, no entanto, não impediram que houvesse uma produção bastante significativa e diversificada nas áreas de literatura, teatro, música, arquitetura e escultura.

A literatura

Durante o século XVI, grande parte do que foi escrito na colônia tinha a finalidade de ensinar a religião católica ou descrever os aspectos do território americano.
Os jesuítas faziam as duas coisas: por meio de textos catequéticos, ensinavam a religião; por meio das cartas que enviavam à Europa, contavam como era a vida na América.
Havia também viajantes europeus que vinham para a América e, com o que observavam aqui, acabavam escrevendo obras sobre a colônia; muitos padres também escreveram sobre suas experiências no continente. Os viajantes e religiosos portugueses e de outras nacionalidades escreviam principalmente sobre aquilo que achavam diferente na América: os costumes dos povos nativos, os animais desconhecidos (como o papagaio) e a densa vegetação topical.
Um nome de destaque no século XVI foi o do padre jesuíta José de Anchieta. Ele veio para a colônia com o objetivo de catequizar os índios e transmitir-lhes a religião católica. Com esse propósito, escreveu poemas religiosos e peças teatrais sobre a vida dos santos.
Nos textos, para cativar seu público, incluía elementos da cultura indígena. José de Anchieta foi também o primeiro a elaborar uma gramática das línguas nativas, com o intuito de facilitar a comunicação entre os religiosos e os povos indígenas.
Dentre os viajantes, merece destaque a história do aventureiro Hans Staden. Nascido na atual Alemanha, ele viajou duas vezes para a América: em 1547, como artilheiro, a bordo de um navio português com destino a Pernambuco; e em 1548 numa esquadra espanhola que ia explorar a região do rio da Prata.
Na segunda oportunidade, o navio em que viajava acabou naufragando e Hans Staden foi parar no litoral de Bertioga (São Paulo). Acolhido pelos colonos, foi empregado para trabalhar numa das fortalezas da região. Mas, em combate com os tupinambás, foi aprisionado. Os tupinambás costumavam praticar rituais antropofágicos, ou seja, devoravam seus inimigos.
Hans Staden, porém escapou desse destino, fazendo-se passar por francês, aliado dos tupinambás contra os portugueses. Mas decisivo mesmo foi o fato de chorar sempre que era ameaçado de ser devorado. Com isso, os índios o consideravam indigno de ser devorado.
Em 1555, de volta à Europa, decidiu escrever um livro sobre suas aventuras. Em pouco tempo, a publicação tornou-se um grande sucesso – era o povo europeu interessado em conhecer o Novo Mundo.
No século XVII, além dos textos de religiosos e viajantes que continuaram a ser escritos, destacou-se o poeta Gregório de Matos, conhecido como Boca do Inferno, pois em seus poemas criticava severamente a sociedade do seu tempo: senhores de engenho e escravo, padres e leigos, governantes e governados, índios, africanos, europeus e mestiços. Gregório de Matos foi ainda autor de poemas com temas de amor e religião.
No século XVII viveu ainda o jesuíta padre Antônio Vieira. Vieira escreveu e proferiu sermões famosos, tanto na América quanto na Europa.
No século XVIII, a cultura do mundo colonial sofreria grandes modificações com o desenvolvimento de várias cidades e a ocupação de vastas áreas do interior do continente. A população colonial aumentaria, assim como a estrutura existente. Era a época da descoberta do ouro e do aumento da pecuária e do cultivo de outros produtos agrícolas.

Arquitetura e escultura

As primeiras construções feitas pelos portugueses na América, em geral, utilizavam técnicas indígenas. Eram construídas com uma estrutura de madeira roliça e cobertas de palha ou sapé. O formato delas obedecia a padrões portugueses e não indígenas. Em geram eram quadradas ou retangulares e, ao contrário das habitações nativas tinham janelas.
No início de século XVI, poucas construções eram feitas de pedra e cal. Apenas com o desenvolvimento dos núcleos coloniais, essa técnica começou a ser mais utilizada. Muitas das fortalezas do litoral, por exemplo, eram construídas dessa forma. Outra técnica usada pelos colonos era a taipa de pilão, uma espécie de barro (saibro) misturado com cascalho. Entretanto, pouco resistente à água, a taipa de pilão tinha seu uso restrito a poucas regiões, como São Paulo. Ainda hoje é possível encontrar construções dos tempos coloniais que utilizavam essas técnicas.
Uma das principais características da arquitetura colonial foi a construção de igrejas. Até meados do século XVII, a maioria das igrejas, que pertenciam à Companhia de Jesus, eram pequenas e bem simples, feita de pedra e cal, em forma retangular. Poucas eram as igrejas mais amplas e mais ornamentadas. Dentre estas destacava-se a catedral de Salvador, na Bahia, cujo interior foi todo revestido de mármore trazido de Portugal.
À medida que as riquezas coloniais aumentavam, algumas construções religiosas ganharam novos formatos: passaram a ter fachadas mais imponentes e, muitas delas, como na Bahia e em Pernambuco, tiveram seu interior decorado com ouro.
Desses primeiros séculos de colonização, destaca-se também a construção das casas-grandes de engenhos. Feitas de alvenaria, abrigavam um grande número de pessoas. A elas estavam acopladas muitas vezes igreja e escola.
Durante os séculos XVI e XVII, a escultura esteve ligada à arquitetura religiosa. Os artistas, muitos dos quais eram padres, faziam imagens, a maioria em barro cozido, para colocar nas igrejas.
Na escultura, dois nomes se destacaram, os dos freis Agostinho da Piedade e Agostinho de Jesus. O primeiro chegou ainda jovem a Salvador , em 1620, vindo de Portugal. Em estilo renascentista e sempre utilizando barro cozido, produziu esculturas para igrejas de Salvador e Olinda.
Frei Agostinho de Jesus nasceu no Rio de Janeiro. Como religioso, passou por diversas regiões da colônia. Esteve em Salvador por volta de 1640, onde provavelmente aprendeu a arte da escultura com frei Agostinho da Piedade.

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