sexta-feira, 19 de julho de 2024

Povos originários

O momento atual, de maneira geral, é caracterizado pela rápida transformação das paisagens e pelo crescente impacto das ações humanas sobre a natureza.

Porém, existem sociedades que produzem o espaço geográfico de modo diferente, como os povos originários, que são os primeiros habitantes de um território. Os diferentes povos indígenas no Brasil, por exemplo, já viviam em nosso país antes da chegada dos portugueses, no ano de 1500.
Apesar de utilizarem os recursos naturais para garantir a sobrevivência, a ação dos povos originários transforma as paisagens de maneira mais lenta e com menores impactos ambientais. Isso acontece porque o modo de vida desses grupos está bastante integrado à natureza.
Muitas vezes, as terras nas quais os povos originários vivem e às quais têm direito são cobiçadas por outros grupos, por constituírem reservas importantes de água, vegetação e minerais, causando conflitos em diferentes lugares do mundo.
A fim de pôr em prática projetos econômicos, governos e empresas tentam forçar os povos originários a deixar as terras onde vivem, apesar das recomendações mundiais de organizações humanitárias e de leis nacionais que garantem o direito de posse.
Para essas populações, deixar as terras significa abandonar o modo de vida, perder a cultura e submeter-se a viver em situação precária nas cidades. No Brasil, os povos indígenas lutam há séculos pela manutenção de seu direito à posse da terra.
Para os povos indígenas do Brasil, a terra é um bem coletivo, isto é, pertence a todos e serve para a obtenção de recursos necessários à sobrevivência.
Nessas sociedades tradicionais, todos desenvolvem as tarefas cotidianas, e não há emprego ou trabalho remunerado.
As técnicas de trabalho e o uso dos recursos naturais são transmitidos de geração a geração e provocam poucos impactos ambientais, permitindo que a natureza se recomponha.

Os conhecimentos dos povos originários

Povos originários desenvolveram muitos conhecimentos sobre as áreas nas quais viviam. Com o passar dos anos aprenderam sobre plantas e animais, identificando quais eram comestíveis ou não. Especula-se que, inicialmente, consumiam os mesmos alimentos de pássaros e de outros animais por imitação. Ou seja, como viam que eles comiam e não morriam, copiavam. Mais tarde, entretanto, com o desenvolvimento da agricultura, passaram a adaptar aquelas espécies e torná-las mais adequadas às necessidades humanas.
Já o desenvolvimento de remédios a partir de plantas e animais foi mais demorado. Identificar determinadas espécies de plantas e seu uso só foi possível pela experimentação em situações de doenças, mas aos poucos as plantas foram selecionadas. Muitos estudos mostram que houve uma intensa troca de informações entre diferentes grupos sociais, o que acabou aumentando o repertório de plantas medicinais.
Só essas ações já seriam suficientes para reconhecer a importância dos povos originários. Mas estudos recentes mostram que eles também ajudaram a desenvolver e conservar ambientes. Ou seja, algumas formações vegetais podem ser resultado de processos naturais, como a variação da temperatura e o isolamento de uma área, mas também podem ter sido alteradas pela presença humana no passado por meio da agricultura ou mesmo pela ocupação de uma área para morar.
Um exemplo conhecido recentemente é a difusão da floresta de Araucárias no Brasil. Estudos desenvolvidos por arqueólogos indicaram que as comunidades que viviam em lugares onde depois floresceram as araucárias foram dispersoras de sementes. Como elas consumiam o fruto das araucárias, deixavam sementes dispersas por onde passavam. Elas brotaram e chegaram a formar árvores de grande porte.
No Brasil, há muitas comunidades tradicionais, como quilombolas, caiçaras e pescadores, que vivem em áreas de proteção ambiental. Seu modo de vida não altera de modo expressivo a dinâmica natural, por isso elas conseguem habitar um local sem esgotar os recursos naturais da área.
Grandes empresas têm se interessado pelos conhecimentos das comunidades tradicionais, pois elas detêm informações sobre as propriedades de algumas espécies de plantas que podem ser usadas em novos produtos. Veja alguns exemplos de plantas e seus usos:
• Medicinais: podem ser utilizadas na produção de remédios e outros medicamentos;
também auxiliam em tratamentos mais longos, como de doenças que afetam a pele, as articulações, etc.
• Ricas em nutrientes: podem ser usadas como alimento ou como complementos alimentares e vitamínicos, mas ainda não são de uso comum fora das comunidades.
• Propriedades cosméticas: podem ser usadas para produzir xampus e cremes com composições mais naturais.
Esses conhecimentos são valiosos para as empresas porque as pesquisas que levam à fabricação de novos remédios ou à produção de alimentos mais nutritivos são caras e demoradas. Por isso, é muito mais fácil e econômico iniciar as pesquisas tendo como base os conhecimentos e as técnicas das comunidades tradicionais para, então, aprimorá-las.
Em muitos países do mundo, empresas se apropriam ilegalmente de espécies animais e vegetais e do conhecimento das comunidades tradicionais, realizam estudos e acabam por desenvolver um produto novo, como um remédio, que passa a ser comercializado. No entanto, essas comunidades ficam sem receber pelo fornecimento dos conhecimentos e recursos e o país onde aquela espécie ocorre perde a possibilidade de desenvolver tecnologia e obter ganhos para sua população. Esse tipo de ação prejudicial recebe o nome de biopirataria.
Por isso, nem sempre a luta pela preservação da natureza e pela manutenção do modo de vida das comunidades tradicionais é desinteressada. Grandes empresas internacionais – especialmente dos setores farmacêutico e alimentício – ganham muito dinheiro com o conhecimento adquirido com essas comunidades.

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