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A Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos, considerada um dos conflitos mais violentos da história do país, aconteceu na Bahia entre os anos de 1896 e 1897. Canudos foi um povoado no interior da Bahia onde Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, passou a viver com seus seguidores em 1893. Conselheiro, que era um peregrino e pregador da região, mudou o nome do povoado para arraial de Belo Monte. Em suas pregações, ele fazia várias críticas à República, principalmente com relação ao aumento de impostos e à situação de miséria do povo.

A comunidade chegou a abrigar cerca de 20 mil moradores. O crescimento do povoado incomodou os latifundiários, pois muitas famílias deixavam suas moradias e seu trabalho para viver em Canudos, provocando a diminuição da mão de obra nas fazendas da região.

Toda a região do Nordeste passava por aguda crise econômica, deixando a maioria da população do campo em estado de miséria. Depois de 1877, quando teve início um longo período de secas, a miséria e a fome se acentuavam nos seringais, mas a maioria permanecia na região.

Os homens livres que trabalhavam na terra de algum grande latifundiário tinham, de certa forma uma segurança e uma proteção. Com a crise, até esse tipo de trabalho havia desaparecido. A maioria da população sentia-se desamparada e vagava pelos sertões. Alguns se transformavam em bandidos, formando grupos religiosos messiânicos, esperando um milagre dos céus para livrá-los da miséria.
Foi de um desses grupos messiânicos que vagavam pelo sertão da Bahia que surgiu um líder conhecido com o nome de Antônio Conselheiro. Conselheiro reuniu vários adeptos percorrendo os sertões e fazendo pregações religiosas, ajudando os pobres em suas colheitas e em pequenas construções. Havia entre eles uma grande solidariedade e um forte sentimento de comunidade.

O início dos conflitos

Enquanto a fama de Antônio Conselheiro aumentava com o auxílio que prestava aos pobres, a Igreja não admitia suas práticas religiosas. O governo da Bahia começou a persegui-lo, temendo possíveis agitações. Antônio Conselheiro ganhou dois poderosos inimigos: o Estado e a Igreja.

Antônio Conselheiro

Mesmo assim ele prosseguiu em suas pregações e, juntamente com seus adeptos, formou um acampamento nas margens de um rio em uma fazenda abandonada chamada Canudos.
Em Canudos, Conselheiro fazia suas pregações religiosas, mas também emitia suas opiniões políticas. Atacava o governo da República, responsabilizando-o pelo estado de miséria do povo. Antônio Conselheiro dizia que na época do Império não havia essa situação de miséria. A República, segundo a visão do beato, era a responsável pela miséria do povo porque provocou a ira de Deus quando separou a Igreja do Estado.
Os republicanos, por sua vez, considerava-os monarquista perigoso.
O arraial de Canudos, como ficou conhecido, chegou a ter mais de 30 mil habitantes. Era uma verdadeira cidade de casebres. Para administrar essa "cidade", Conselheiro havia criado um corpo de auxiliares que organizava a distribuição de alimentos, as práticas religiosas e a defesa.
Preocupavam-se com a defesa, pois eram constantemente ameaçados pelos grandes fazendeiros locais, conhecidos como coronéis, porque a popularidade de Conselheiro diminuía a autoridade deles: eram ameaçados pela Igreja, porque as pregações de Antônio Conselheiro eram vistas como uma heresia anticatólica; eram ameaçados pelo governo central da república, porque Conselheiro e seus adeptos eram vistos como perigosos monarquistas.
Assim, logo começou a ser difundida a ideia de que Canudos era um reduto onde viviam milhares de “fanáticos”, inimigos da República e de seus ideais de “ordem e progresso”.
Os primeiros ataques contra Canudos começaram pelo governo da Bahia. Os cem soldados enviados em novembro de 1896 para dispersar os seguidores de Conselheiro, foram expulsos depois de alguns combates. Morreram dez soldados.

O governo Federal contra Canudos

O governo Federal assumiu a responsabilidade na repressão ao foco de "monarquistas subversivos", como eles ficaram conhecidos. Mais de seiscentos soldados armados de fuzis e dois canhões seguiram para a Bahia. No dia 2 de janeiro de 1897, os seguidores de Conselheiro derrotaram os soldados e ainda lhe tomaram as armas, inclusive os canhões. No Rio de Janeiro, a notícia caiu como uma bomba, pois os republicanos radicais achavam que eram uma guerra para restaurar a monarquia.
Uma nova expedição, de 1 600 soldados, foi organizada, sob o comando do coronel Moreira César, em março de 1897, mas também esta foi derrotada pelos conselheiristas.
"Oitocentos homens desapareceriam em fuga, abandonando as espingardas; ariando as padiolas em que se estorciam os feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando-se (...) e correndo ao acaso (...)". Assim descreveu Euclides da Cunha a fuga da força do governo que, no dizer dos sertanejos de Canudos, havia se transformado na fraqueza do governo.
A derrota governista aumentou a convicção entre os republicanos mais radicais de que Canudos era um perigoso e bem armado foco monarquista. Por essa razão, nova e poderosa expedição contra os sertanejos foi preparada. Quase 10 mil soldados, comandados pelo general Arthur Guimaraes, partiram para os sertões da Bahia com a missão de não deixar pedra sobre pedra no arraial de Canudos.
Os primeiros combates deram-se em julho de 1897. Os sertanejos mais uma vez mostravam-se superiores num terreno que lhes era familiar. Trezentos seguidores de Conselheiro conseguiram deter mais de 2 500 soldados por vários dias, provocando mais de mil baixas nas forças do governo. Depois de mais de dois meses de luta, os sertanejos não puderam resistir a uma força muitas vezes maior do que as suas. No dia 5 de outubro de 1897, cessou a resistência no arraial de Canudos. Praticamente não houve sobreviventes, a não ser "um velho, dois homens feitos e uma criança", como relatou Euclides da Cunha.
As casas do arraial eram muito simples. Na maioria, eram construções de pau-a-pique com telhados de palha e apenas uma minúscula saleta, um quarto e uma cozinha. Agrupavam-se sem nenhuma ordem ao redor de algumas praças e das duas igrejas, a velha e a nova. Isso fazia de Canudos um labirinto. E também uma fortaleza: a disposição das casas acabou sendo muito importante quando o arraial teve de se defender, pois dificultou a penetração das forças invasoras. No centro do arraial ficavam as duas igrejas. A igreja velha era a antiga capela da fazenda. Tinha sido restaurada, mas era pequena. Por isso começou a ser construída uma nova, que ainda não estava pronta quando Canudos começou a ser atacada pelas forças do governo. Com paredes de quase um metro de espessura, o templo suportou firmemente muitos tiros de canhão.
Parece que o Conselheiro não escolheu ao acaso o local para se fixar com seus seguidores. Canudos ficava completamente isolada e afastada de qualquer grande centro. Isso facilitava no objetivo de seu líder, que era manter-se distante da sociedade que ele repudiava. Mais ainda: Canudos ficava praticamente cercada pelos desfiladeiros das serras de Cocorobó, Calumbi, Cambaio, Canabrava e Caipã. A estrada de ferro mais próxima passava por Queimadas, a 130 quilômetros dali.
Alguns historiadores acham mesmo que o Conselheiro escolheu aquele local prevendo futuros ataques armados de seus inimigos. De fato, já em 1893, depois de mandar arrancar e queimar as ordens de cobrança de impostos em Bom Conselho, ele tivera de enfrentar a força da lei. O governo do estado da Bahia enviou um destacamento de cerca de 100 homens, sob o comando de um tenente, para prender Antônio Conselheiro e dispersar seus seguidores […] Já nesses primeiros combates fica claro que as condições da região favoreciam o Conselheiro e seu grupo, para quem o sertão era terreno bem conhecido. Para as tropas enviadas para combatê-los, ao contrário, a caatinga era um obstáculo nada desprezível.

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