Célestin Freinet, pedagogo francês (Gars, Alpes-Marítimes,
1896 – Vence 1966). Professor primário em Bar-sur-Loup (1920), militou desde o fim
da Primeira Guerra Mundial no movimento da educação nova. É um dos teóricos das
classes cooperativas. Sua pedagogia integra cooperação e trabalho coletivo,
principalmente de conselhos de cooperação, impressão e difusão de jornal
escolar e pesquisa de campo. Suas ideias foram amplamente retomadas sobretudo
nos setores da educação pública na França, dedicados a populações
marginalizadas; o movimento Freinet reagrupa hoje alguns milhares de
professores. Freinet inspirou igualmente o movimento da pedagogia
institucional. Escreveu A educação do trabalho (1947). As técnicas Freinet na
escola moderna (1964). Com o início da guerra, em 1914, alistou-se e devido a ações de gases
tóxicos, comprometeu seu pulmão. Após ter retornado da guerra, decidido,
sabia o que seria: “Professor primário”.
Célestin Freinet
Crítico da escola tradicional e das escolas novas, Freinet foi criador, na França, do movimento da escola moderna. Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular. Em contato com seus alunos na prática, da início as suas descobertas embasadas somente nos interesses dos seus alunos. Cria uma Cooperativa de Trabalho com aldeões com quem também trabalhava e dá origem as primeiras correspondência escolares.
Na sua concepção, a sociedade é plena de contradições que refletem
os interesses antagônicos das classes sociais que nela existem, sendo
que tais contradições penetram em todos os aspectos da vida social,
inclusive na escola. Para ele, a relação direta do homem com o mundo
físico e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e liberdade é aquilo que decidimos em conjunto.
Em suas concepções educacionais dirige pesadas críticas à escola
tradicional, que considera inimiga do "tatear experimental", fechada,
contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da criança.
Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola tradicional,
expresso nas regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo
determinado de forma arbitrária, compartimentados e defasados em relação
à realidade social e ao progresso das ciências.
Mas, critica também as propostas da Escola Nova, particularmente
Decroly e Montessori, questionando seus métodos, pela definição de
materiais, locais e condições especiais para a realização do trabalho
pedagógico.
Por volta de 1925, Freinet encontrava-se incapacitado de
passar o dia dando aulas expositivas para os filhos de camponeses, seus alunos,
nas aldeias do sul da França, por causa de um ferimento no pulmão durante a
Primeira Guerra Mundial. Conhecedor das ideias da Escola Nova (na época,
chamada de "Escola Ativa"), ele buscava caminhos para adaptá-las ao
trabalho com crianças humildes.
Para Freinet as mudanças necessárias e profundas na educação deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios professores.
O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se por sua dimensão social, evidenciada pela defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade.
Atribui grande ênfase ao trabalho: as atividades manuais tem tanta
importância quanto as intelectuais, a disciplina e a autoridade resultam
do trabalho organizado. Questiona as tarefas escolares(repetitivas e
enfadonhas) opostas aos jogos(atividades lúdicas, recreio), apontando
como essa dualidade presente na escola, reproduz a dicotomia
trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial.
A escola por ele concebida, é vista como elemento ativo de mudança
social e é também popular por não marginalizar as crianças das classes
menos favorecidas.
Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com
base na experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos
para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. "O desejo de conhecer mais e melhor nasceria de uma situação de trabalho concreta e problematizadora.
O
trabalho de que trata aí não se limita ao manual, pois o trabalho é um
todo, como o homem é um todo. Embora adaptado à criança, o trabalho deve
ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como
a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade"
Dá grande importância à participação e integração entre famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de vista de que "se se respeita a palavra da criança, necessariamente há mudanças".
Algumas técnicas da pedagogia de Freinet:
o desenho livre, o texto livre, as aulas-passeio, a correspondência
interescolar, o jornal, o livro da vida (diário e coletivo), o
dicionário dos pequenos, o caderno circular para os professores, etc. Essas técnicas têm como objetivo favorecer
o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem (desenho, escrita,
gramática), da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais.
Porém, essas técnicas não são um fim em si mesmas, e sim, momentos de
um processo de aprendizagem, que ao partir dos interesses mais profundos
da criança, propicia as condições para o estabelecimento da apropriação
do conhecimento.
Vemos que Freinet considera a aquisição do conhecimento como fundamental, mas, essa aquisição deve ser garantida de forma significativa.
Essa técnica, que ficou conhecida como correspondência
interescolar, juntamente com os contatos com a comunidade e o texto livre
(desenha-se e/ou escreve-se livremente sempre que houver vontade de expressar
algo), constitui um dos fundamentos do método natural, criado por Freinet e relatado
em uma série de livros.
Sua proposta
pedagógica mesclada entre teoria e prática, advém das suas observações
das crianças, das práticas de trabalhos que realizou com elas, das
reflexões teóricas elaboradas tendo como ponto de partida essa prática,
que é constantemente recolocada em prática em diversas situações
escolares.
Em sua proposta os instrumentos e os meios são importantes para propiciar participação e interesse, são mediadores para liberar e despertar o interesse para o trabalho. A experiência é a possibilidade para que a criança chegue ao conhecimento. Assim, criação, trabalho e experiência, por sua ação conjunta resultam em aprendizagem.
Freinet concebe a educação como um processo dinâmico que se modifica com o tempo e que está determinada pelas condições sociais. Desta maneira. é preciso, transformar a escola para adaptá-la à vida, para readaptá-la ao meio. Esta tarefa estaria nas mãos do professor, que obtém sucesso quando toma consciência de que a educação é uma necessidade, uma realidade.
Ele acredita no poder transformador da educação. Por isso propõe uma pedagogia de busca e experiências que eduque profundamente. Proporciona à criança um papel ativo de acordo com seus interesses. O trabalho é algo que deve ser valorizado e praticado cotidianamente. A educação é uma preparação para a vida social e aí está uma das razões de advogar o trabalho cooperativo como via para transformar a sociedade e a natureza e a sociedade são os objetivos e também os conteúdos do ensino.
Podemos afirmar que Freinet é um dos pedagogos contemporâneos que
mais contribuições oferece àqueles que atualmente estão preocupados com a
construção de uma escola ativa, dinâmica, historicamente inserida em um
contexto social e cultural.
Logicamente em termos de nossa realidade atual, podemos levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais como: uma
visão otimista demais do poder de transformação exercido pela escola, a
identificação da dimensão social aos fatores de classe, deixando de
fora os aspectos discriminativos relativos a questões de cor e sexo, da
proposta do professor ser o "escriba" dos alunos, quando as
investigações mais atuais da psicolinguística nos levam para outra
direção.
O trabalho de Freinet despertou grande admiração, inclusive
de Piaget, que considerava o educador francês um pedagogo genial. Também teve
muitos críticos, que o censuravam por promover a anarquia e a falta de rigor.
As acusações parecem injustas, especialmente quando constatamos o alto grau de
desenvolvimento da autonomia e do espírito crítico em alunos que frequentam
boas escolas Freinet.
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