Emilia Ferreiro, em 1982 publicou com Margarida Gómez
Palácio o livro, “Nuevas Perspectivas Sobre los Proceesos de Lectura y
Escritura. Publicou obras que reúnem experiências na área de alfabetização
realizadas em diversos países: La Alfabetización em Processo (1985);
Psicogênese da Língua Escrita (1986); Los Hijos del Analfabetismo (Propuestas
para la Alfabetizacíon Escolar em América Latina) (1989).
"Emília Ferreiro
aprofunda um aspecto importante no processo de construção da leitura e
escrita: problema cognitivo envolvido no estabelecimento da relação
entre o todo e as partes que o constituem. Emília nos mostra que a
criança elabora uma série de hipóteses trabalhadas através da construção
de princípios organizadores, resultados não só de vivências externas
mas também por um processo interno. Mostra também como a criança
assimila seletivamente as informações disponíveis e como interpreta
textos escritos antes de compreender a relação entre as letras e os sons
da linguagem." (Emilia Ferreiro - Alfabetização em Processo - Cortez.
Editora)
A alfabetização inicial é considerada em função da relação entre o método utilizado e o estado de "maturidade" ou de "prontidão" da criança. Os dois polos do processo de aprendizagem (quem ensina e quem aprende ) têm sido caracterizados sem que se leve em conta o terceiro elemento da relação: a natureza do objeto de conhecimento envolvendo esta aprendizagem.
A escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras. A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo de codificação
Existem dois sistemas envolvidos no início da escolarização ( o sistema de representação de números e o sistema de representação de linguagem ), as dificuldades que as crianças enfrentam são dificuldades conceituais semelhantes às da construção do sistema e por isso pode-se dizer, em ambos os casos, que a criança reinventa esses sistemas. Não é reinventar as letras e, ou os números, mas compreender seu processo de construção e suas regras de produção.
A distinção que estabelecem entre Sistema de Codificação e Sistema de Representação não é apenas terminológica. Suas consequências para a ação alfabetizadora marcam uma nítida linha divisória.
Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para ser avaliado. Aprender a lê-las, interpretá-las é um longo aprendizado que requer uma atitude teórica definida.
Do ponto de vista construtivo, a escrita infantil segue uma linha de evolução surpreendente regular, através de diversos meios culturais. Aí podem ser distinguidos três grandes períodos no interior dos quais cabem múltiplas subdivisões:
- a
construção de formas de diferenciação (controle progressivo das
variações sobre os eixos qualitativo e quantitativo) a fonetização de
escrita (que se inicia com um período silábico e culmina no período
alfabético).
- "A
escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado
do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita
cumpre diversas funções de existência (especialmente em concentrações
urbanas)".
Resultado de situações experimentais demonstram que as crianças elaboram:
Crianças
aos 4 anos: Informações específicas revelam que a orientação
convencional (da esquerda para a direita e de cima para baixo) raramente
está presente, quando aparece, combina com outras, com tendência para
alternância. Esta alternância consiste em dar continuidade ao ato de
assimilar; continuar do ponto onde parou, originando assim uma
combinação de direção alternativa em cada linha ou coluna.
A criança que cresce em um meio "letrado" está exposta à influência de uma série de interações. As crianças não precisam atingir uma certa idade e nem precisam de professores para começar a aprender. A partir do nascimento já são construtoras de conhecimento. Levantam problemas difíceis e abstratos e tratam por si próprias de descobrir respostas para elas. Estão construindo objetos complexos de conhecimento. E o sistema de escrita é um deles.
O propósito de manter o processo de aprendizagem sob controle, traz implícita a suposição de que os procedimentos de ensino determinam os passos na progressão da aprendizagem.
“Emília Ferreiro descobriu e descreveu a "psicogênese da língua escrita" e abriu espaço para um novo tipo de pesquisa em pedagogia. Ela desloca a investigação do "como se ensina" para "o que se aprende". O processo de alfabetização nada tem de mecânico do ponto de vista da criança que aprende. A criança constrói seu sistema interativo, pensa, raciocina e inventa buscando compreender esse objeto social complexo que é a escrita. Essa mudança conceitual sobre a alfabetização acaba levando a mudanças profundas na própria estrutura escolar". (Cortez-Editora).
(Fragmentos de textos extraídos da obra: Emilia Ferreiro - Reflexões sobre Alfabetização)
22ª edição - Cortez Editora
"Para aprender a ler e a escrever é preciso apropriar-se desse conhecimento, através da reconstrução do modo como ele é produzido. Isto é, é preciso reinventar a escrita. Os caminhos dessa reconstrução são os mesmos para todas as crianças, de qualquer classe social."
"Um dos maiores danos que se pode fazer a uma criança é levá-la a perder a confiança em sua própria capacidade de pensar." (Nova Escola nº 28)
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