Outro psicólogo que fundamenta o pensamento construtivista, Lev Vygotsky, Tendo sido contemporâneo de Piaget, ambos nasceram em 1896. Vigotsky elaborou uma teoria que tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico e o papel de linguagem e da aprendizagem neste desenvolvimento.
Para Vigotsky, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida social e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como muitos acreditavam, no mundo espiritual e sensorial dos homens. Sendo, portanto, necessário analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos a partir da interação destes com a realidade.
Enquanto no referencial Construtivista o conhecimento é entendido como ação do sujeito sobre a realidade (sendo o sujeito considerado ativo), o referencial Histórico Cultural enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações. Na troca com outros sujeitos e consigo próprio vão se internalizando os conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência.
A discussão do pensamento de Vygotsky na área educacional e psicológica nos remete a uma reflexão sobre as relações entre ele e Piaget. Esse confronto se dá uma vez que os autores possuem vários pontos divergentes que separam os seus pensamentos em abordagens ou pontos de vista diferentes.
Ambos
autores fazem parte das correntes interacionista (através de dialética
externas de adaptação entre o organismo psicológico do indivíduo e seu
mundo circundante ou contexto) e construtivista (dialéticas internas de
organização entre as partes do organismo psicológico, como explicação da
mudança adaptativa), entretanto Vygotsky enveredou-se pelo marxismo. É
interessante notar que seu pensamento tem como pano de fundo essa
teoria. Desse embasamento, o autor abstrai que o ser humano é criado
histórico e socialmente, e que suas relações com a natureza e com os
outros homens no nível da consciência são lidados de forma espontânea
apenas quando ele não tem percepção da consciência sobre aquilo que está
fazendo. Por outro lado, à medida que o homem toma consciência da
consciência que possui, mais e mais ele abstrai sobre seus atos e sobre o
meio. Com isto, seus atos deixam de ser espontâneos (no sentido
biológico do termo) para se tornarem atos sociais e históricos,
envolvendo a psique do indivíduo. Observe que, nesse diverso campo da
consciência, existe como base metodológica e objeto de estudo a
intencionalidade da consciência.
Diríamos
de certa forma, que para este autor a consciência é o estado supremo do
homem, o que na teoria vygotskiniana é chamado de Tomada de Consciência. E esses elementos da consciência vão dar origem aos denominados processos mentais superiores,
os quais são diferentes dos processos mecânicos, por estes serem ações
conscientes, controladas ou voluntárias, envolvendo memorização ativa
seguida de pensamento abstrato.
Vygotsky interessou-se por enfatizar o papel da interação social ao longo do desenvolvimento do homem. Donde surge o termo sócio-cultural ou histórico atribuído nesta teoria. E assim assinalam-se constantemente a busca de explicar os processos mentais superiores baseados na imersão social do homem que por sua vez é histórico, ontológico e filogenético.
Vygotsky entendia que os processos psíquicos, a aprendizagem entre eles, ocorrem por assimilações de ações exteriores, interiorizações desenvolvidas através da linguagem interna que permite formar abstrações. Para Vygotsky, a finalidade da aprendizagem é a assimilação consciente do mundo físico mediante a interiorização gradual de atos externos e suas transformações em ações mentais.
Nesse
processo, a aprendizagem se produz, pelo constante diálogo entre o
exterior e interior do indivíduo, uma vez que para formar ações mentais
tem que partir das trocas com o mundo externo, cuja da interiorização
surge a capacidade da atividades abstratas que a sua vez permite elevar a
cabo ações externas.
O
que nos faz pensar que esse processo de aprendizagem se desenvolve do
concreto (segundo as variáveis externas) a abstrata (as ações mentais),
com diferentes formas de manifestações, tanto intelectual, verbal e de
diversos graus de generalizações e assimilações.
Costuma-se
destacar que a abordagem de Vygotsky tem explicação das mudanças de
ordem qualitativa. Isto porque o autor preocupou em descrever e entender
o que ocorre ao longo da gênese de certas funções, assim como, no
estudo da linguagem da formação de conceitos, etc. Nessa teoria não se
tem estágios de desenvolvimento explicado detalhadamente sobre o
surgimento e desenvolvimento das funções psíquicas através de acumulação
de processos elementares. Já que nessa abordagem não se questiona o
fato de que todos os indivíduos tenham uma capacidade de aprendizagem
que, inicialmente, está condicionada pelo nível de desenvolvimento
alcançado. Mas existe na teoria de Vygotsky, assim como na de Piaget -
os diferentes níveis de funcionamento psicológico, cada qual com
características específicas:
- Pseudo-conceitos: aqui ainda a criança não consegue formular conceitos, mas o pensamento ocorre por cadeia e de natureza factual e concreta. Nesta fase a criança se orienta pela semelhança concreta visual, formando apenas um complexo associativo restrito a um determinado tipo de conexão perceptual.
- Conceitos: formação de conceito atividade complexa e abstrata, que usa o signo, ou palavra, como meio de condução das operações mentais.
- Conceitos cotidianos: aprendidos assistematicamente, estes conceitos dispensam a necessidade da escola para a sua formulação.
- Conceitos científicos: constituído por um sistema hierárquico de inter-relação, são os conceitos aprendidos na escola sistematicamente.
Nessa
teoria há uma complexa relação entre o aprendizado e o desenvolvimento,
ao contrário do que se tem em Piaget, onde a curva do desenvolvimento
antecede em grande escala para que ocorra o aprendizado. Em Vygotsky, as
curvas do aprendizado não coincidem com as do desenvolvimento, sendo
que quando a criança aprende algum conceito, por exemplo: aritmética, o
desenvolvimento dessa operação ou conceito apenas começou. Não há
paralelismo entre aprendizagem e o desenvolvimento das funções
psicológicas correspondentes. Tal relação é um processo extremamente
complexo, dialético, não linear se dá aos saltos.
A
aprendizagem dos alunos vai sendo assim construída mediante processo de
relação do indivíduo com seu ambiente sócio-cultural e com o suporte de
outros indivíduos mais experientes. É na zona de desenvolvimento proximal (ZDP)
que a interferência desses outros indivíduos é mais transformador. O
conceito de ZDP é relativamente complexo, ele compreende a região de
potencialidade para o aprendizado. No caso da criança, representa uma
situação cognitiva em que ela só consegue resolver determinada tarefa
psicointelectual com auxílio de alguém mais experiente.
É
justamente a comprovação da existência de uma área de desenvolvimento
potencial que o, texto abaixo menciona a postura da escola nessa área. É
aqui que desprende ou desvincula a proposta de uma concepção distinta
da ajuda pedagógica de que surge das teorias de Piaget. Se em Piaget
havia que ter em conta o desenvolvimento como um limite para adequar o
tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em Vygotsky o
que tem que estabelecer é a sequência que permite o progresso de forma
adequada, impulsionando ao longo de novas adequações, sem esperar a
maduração "mecânica" e evitando que possa pressupor as dificuldades para
prosperar por não delinear um desequilíbrio adequado. É desta concepção
que Vygotsky afirma que a aprendizagem vai em frente do desenvolvimento
Assim,
para Vygotsky, as potencialidades do indivíduo devem ser levadas em
conta durante o processo de ensino aprendizagem. Isto porque, a partir
do contato com pessoa mais experiente e com o quadro histórico-cultural,
as potencialidades do aprendiz são transformadas em situações em que
ativam nele esquemas processuais cognitivos ou comportamentais. Pode
acontecer também de que este convívio produza no indivíduo novas
potencialidades, num processo dialético contínuo.
Assim,
para Vygotsky, como a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, a
escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico e
racional. A escola deve dirigir o ensino não para etapas intelectuais já
alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não
incorporados pelos alunos, funcionando como um incentivador de novas
conquistas psicológicas. Assim, a escola tem ou deveria ter como ponto
de partida o nível de desenvolvimento real da
criança (em relação ao conteúdo) e como ponto de chegada os objetivos
da aula que deve ser alcançado, ou seja chegar ao potencial da criança.
Aqui o professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente.
Observe que esse nível de desenvolvimento real que é abordado na teoria refere-se ao que a criança no seu nível atual, real e efetivo, ou seja, aquilo que a criança consegue fazer sem ajuda de outro. Enquanto que no nível de desenvolvimento proximal são as funções que não amadureceram, mas estão em estado embrionário - diz respeito às potencialidades e aos processos a longo prazo. Por conseguinte, o que ocorre para Vygotsky é que o aprendizado progride mais rapidamente do que o desenvolvimento. Por isto, a proposta do termo ZDP em sua teoria, e que é onde a escola deve atuar. É aí que o professor agente mediador (por meio da linguagem, material cultural entre outros) intervém e auxilia para a construção e reelaboração do conhecimento do aluno, para que haja seu desenvolvimento.
De forma geral, Piaget e Vygotsky contribuíram para a elaboração de metodologias inovativas que ultrapassam aquelas existentes na escola tradicional. Isto para que, a partir daí, possam trabalhar rumo a uma educação significativa e construtiva – a qual possa conduzir o aluno a ser sujeito consciente de sua autonomia social.
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