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O Sócio-Interacionismo de Vygotsky

 

O russo Vygotsky, contemporâneo de Piaget, não escreveu muito. Morreu precocemente, mas suas ideias eram revolucionárias para o mundo da psicologia infantil e da escola. Seus discípulos ampliaram seus escritos e divulgaram sua obra pelo mundo. Suas obras permaneceram desconhecidas por décadas ao mundo ocidental, chegando ao Brasil só no inicio da década de 80.

Ele criticou com firmeza a psicologia da época e propôs uma nova postura frente à psicologia fundamentada em uma concepção dialética materialista e histórica da realidade. A tal postura denominou-se sócio-interacionismo, para diferenciá-lo do interacionismo de seu contemporâneo Jean Piaget.

Em seu trabalho, Vygotsky ressaltou o aspecto individual da formação da consciência, e o contexto social vivido como resultado de um processo sócio-histórico.

  TEORIA DE VYGOTSKY 

A partir dos anos 70 e 80, surgem novas teorias nas áreas da linguística e da psicologia educacional. Ao lado de Piaget, considerados pais da psicologia cognitiva e contemporânea, propuseram que o conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados culturalmente. Cada aluno constrói seu próprio aprendizado num processo de dentro para fora, baseado em experiências de fundo psicológico.

Esse aprendizado é essencial para o desenvolvimento do ser humano, e se dá sobretudo pela interação social. Quanto maior for o aprendizado, maior será o desenvolvimento.

A evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. Esse processo, segundo Vygotsky é explicado pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é à distância entre o nível de desenvolvimento real (que se costuma determinar através da solução independente de problemas) e o nível de desenvolvimento potencial (determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros, colegas mais capazes).

 Desenvolvimento real

É determinado por aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha porque já tem um conhecimento consolidado. Se domina operações matemáticas como a adição, por exemplo, esse é um nível de desenvolvimento real.

 O mediador

É quem ajuda a criança a concretizar um desenvolvimento que ela ainda não atinge sozinha. Na escola o professor e os colegas mais experientes são os principais mediadores.

 Desenvolvimento Potencial

É determinado por aquilo que a criança ainda não domina, mas é capaz de realizar com auxílio de alguém mais experiente. Por exemplo, uma multiplicação simples quando ela já sabe somar.

Interessa-nos particularmente a ideia de Vygotsky, segundo a qual, a aprendizagem era fator de desenvolvimento. Para o psicólogo russo, escola é lugar de ensinar pessoas. Tudo aquilo que já se sabe, não é matéria escolar. E mais: ao se propor algo novo para ser aprendido, o desenvolvimento da criança é favorecido. Ou seja, para Vygotsky, o desenvolvimento segue atrás da aprendizagem. Não se deve esperar pelo desenvolvimento para ensinar.

Isso cria perspectivas muito positivas para o ensino. Valoriza a atuação do professor.

Vygotsky afirma ainda que uma criança, se puder aprender com auxílio de outras pessoas, terá um ritmo de desenvolvimento mais acelerado que outra criança que tiver que fazê-lo sozinha. De onde podemos deduzir que, se a criança vive e viverá sempre em sociedade, por qual motivo ela teria que aprender qualquer coisa sozinha? Será que não é mais real, dada nossa realidade social, aprender sempre com ajuda? Não descarto possibilidades de atitudes solitárias, que sempre as teremos, mas, de modo geral, não é necessário aprender em solidão. Aprender com ajuda dos outros teria, pelo menos, dois grandes benefícios: um desenvolvimento mais acelerado e uma aprendizagem de vida em sociedade.


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