sexta-feira, 20 de maio de 2022

Diferentes concepções sobre Ensinar e Aprender

  

Maria da Graça Nicoletti Mizukami é pedagoga e atua na área de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo. No livro: Ensino: As Abordagens do Processo, apresenta cinco concepções diferentes a respeito do processo de ensino-aprendizagem, sintetizadas a seguir. 

1.   Abordagem Tradicional

- A ênfase é dada às situações de sala, onde os alunos são instruídos, ensinados pelo professor. Os conteúdos e as informações tem que ser adquiridos e os modelos, imitados.

- Em termos gerais, e um ensino que se preocupa mais com a variedade e a quantidade de noções e conceitos e informações do que com a formação do pensamento reflexivo.

- A apresentação oral do professor tem um lugar proeminente cabendo ao aluno a memorização desse conteúdo verbalizado.

- Existe a preocupação com a sistematização dos conhecimentos apresentados de forma acabada. As tarefas são padronizadas. 

2.  Abordagem Comportamentalista

- Ensinar consiste num arranjo e planejamento de condições externas que levam os estudantes a apender. É de responsabilidade do professor assegurar a aquisição do comportamento.

- Os comportamentos esperados dos alunos são instalados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como elogios, graus, notas, prêmios, reconhecimento do mestre e dos colegas, associados a outros mais distantes, como diploma, as vantagens da futura profissão, possibilidade de ascenção social, monetária.

- Os elementos mínimos a serem considerados num processo de ensino são: o aluno, um objeto de aprendizagem e um plano para alcançar o objetivo proposto. A aprendizagem será garantida pelo programa estabelecido. 

3. A Abordagem humanistas

- O ensino está centrado na pessoa, o que implica orientá-la para sua própria experiência para que, dessa forma, possa estruturar-se e agir.

- A atitude básica a ser desenvolvida é a da confiança e de respeito ao aluno.

- A aprendizagem tem qualidade de um envolvimento pessoal. A pessoa considerada em sua sensibilidade e sob o aspecto cognitivo é incluída de fato na aprendizagem. Esta é auto iniciativa. Mesmo quando o primeiro impulso ou estímulo vem de fora, o sentido da descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de dentro.

- A aprendizagem nesta abordagem é significativa e penetrante. Suscita modificação no comportamento e nas atitudes.

- Além disso, é avaliada pelo educando. Este sabe se está indo ao encontro de suas necessidades, em direção ao que quer saber, se a aprendizagem projeta luz sobre aquilo que ignora. 

3. Abordagem Cognitivista 

- O importante é como ocorrem a organização do conhecimento, processamento das informações e os comportamentos relativos à tomada de decisões.

- As pessoas lidam com os estímulos do meio, sentem e resolvem problemas, adquirem conceitos e empregam símbolos verbais. A ênfase, pois, está na capacidade do aluno de integrar informações e processadas.

- O que é priorizado são as atividades do sujeito, considerando-o inserido numa situação social.

- O ensino é baseado no ensaio e erro, na pesquisa, na investigação, na solução de problemas por parte do aluno e não na aprendizagem de fórmulas, nomenclaturas, definições, etc. Assim, a primeira tarefa da educação consiste em desenvolver o raciocínio.

- O ponto fundamental do ensino, portanto, consiste em processos e não em produtos de aprendizagem.

- Não existem currículos fixos. Antes são oferecidas às crianças situações desafiadoras, tais como jogos, leituras, visitas, excursões, trabalho em grupo, arte, oficinas, teatro, etc. 

44. Abordagem Sociocultural

- Uma situação de ensino-aprendizagem, entendida em seu sentido global, deve procurar a superação da relação opressor-oprimido através de condições tais como:

a) solidarizar-se com o oprimido, o que implica assumir a sua situação;

b) transformar radicalmente a situação objetiva geradora de opressão.

- A educação problematizadora busca o desenvolvimento da consciência crítica e da liberdade como meios de superar as contradições da educação tradicional.

- Educador e educando são, portanto, sujeitos de um processo em que se crescem juntos, porque “ninguém educa ninguém, ninguém se educa. Os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo. 

Em Busca de uma Aprendizagem Significativa 

A partir dessas abordagens apresentadas, podemos agora destacar nosso ponto de vista sobre o processo de ensino-aprendizagem.

A escola e o professor trabalham com a aprendizagem do aluno num processo que não acaba nunca. Aprende-se e sempre. Além do mais, aprender não é uma propriedade exclusiva do aluno: o professor também aprende.

Quando falamos em aprender, entendemos: buscar informações, rever a própria experiência, adquirir conhecimentos, desenvolver habilidades, adaptar-se a mudanças, mudar comportamentos, descobrir o sentido das coisas, dos fatos, dos acontecimentos… Os verbos utilizados aqui priorizam o aluno enquanto agente principal e responsável por sua aprendizagem. As atividades estão centradas no aluno, em suas capacidades, condições e oportunidades.

De modo análogo, o significado de ensinar diz respeito a: instruir, fazer saber, comunicar conhecimentos, mostrar, guiar, orientar, dirigir, desenvolver habilidades – verbos que apontam para o professor enquanto agente principal e responsável pelo ensino. Neste sentido, o ensino centraliza-se no professor, em suas qualidades e habilidades.

Porque existe em função do aluno e da sociedade na qual se insere, a escola deverá privilegiar a aprendizagem de seus alunos. Ao mesmo tempo, entendemos que a aprendizagem e o ensino são processos indissociáveis. O ensinar se define em função do aprender.

Mas, para que a aprendizagem realmente aconteça, ela precisa ser significativa para o aluno, envolvendo-o como pessoa.


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