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MAKARENKO: O PEDAGOGO POETA

  

Anton Semionovitch Makarenko nasceu em 1888 na Ucrânia; filho de pintor de construção civil, foi uma das mais notáveis personalidades do mundo cultural da época e ainda hoje. Engajou-se profundamente na nova sociedade que se foi elaborando após a Revolução de 1917, tendo sido encarregado, em 1920, de organizar uma colônia para menores delinquentes: a colônia Máximo Gorki, descrita no Poema Pedagógico (1933-1936). Foi uma reprodução em miniatura da sociedade bolchevique dos anos 20: assembleias gerais, rotatividade no comando, para não formar uma "aristocracia", e conselhos de comandantes, experiencia que inspirou C. Freinet. 


Makarenko

    Destacou-se simultaneamente como talentoso escritor, como pedagogo que abriu novas vias à ciência da educação e como pensador profundo. Professor e Pedagogo de formação, viveu na Rússia participando como profissional dos governos de Lênin e Stalin, administrando a Colônia Gorki e a comuna Dzerjinski, ambas destinadas à educação e formação de jovens delinquentes e crianças abandonadas de guerra. Era um homem com grande capacidade comunicativa. Em seu trabalho pedagógico rejeitou a fórmula tradicional da educação e adotou o trabalho coletivo como princípio educativo, pois sua preocupação era formar os novos homens soviéticos, que eram preparados através de ginástica militar, jogos bélicos, desfiles e exercícios táticos. Makarenko buscava a formação de uma sociedade marxista ideal, sem lutas de classes, sem alienações e sem contradições, à base de solidariedade. O seu método de ensino era baseado na organização coletiva das atividades, onde todos (professores e alunos) assumiam obrigações; o professor tinha o papel político na formação do cidadão russo e esse trabalho exigia dedicação e responsabilidade social e não permitiam equívocos, tendo então, que ser muito bem planejado.

     O marxismo pedagógico elaborou um modelo teórico e prático de educação caracterizado por uma transição realizada a partir dos princípios doutrinários fundamentais em relação às várias tendências nacionais e às diversas estratégias políticas, bem como às diferentes fases de crescimento dos movimentos revolucionários em âmbito internacional. No entanto, foi constituído um patrimônio comum e constante apresentando características nitidamente diferentes e originais em relação às teorias “burguesas” da educação, além de manifestar uma consciência precisa de sua própria especificidade teórica e prática.

     Por volta dos anos de 1917 a 1930, a Rússia viveu momentos de importantes transformações sociais, políticas e automaticamente educacionais. Quando Lênin ainda governava esse país dele defendeu temas educativos que mudaram as bases da realidade escolar.

     Em Lênin, a teoria marxista vem imersa dentro da tradição russa e, ao mesmo tempo, ligada a uma estratégia política revolucionária. De um lado, portanto, Lênin afirma com vigor que o comunismo deve ser o herdeiro cultural do passado burguês, especialmente no que diz respeito à ciência e à técnica; de outro, sublinha as características novas da educação comunista, identificada por uma estreita relação entre escola e política, e pela instrução politécnica, que retoma o conceito marxista de “multilateralidade” e se articula no encontro entre instrução e trabalho produtivo. (Cambi, 1999, p.557-558).

      Um dos fatos marcantes na Rússia, que permitiu as mudanças “sonhadas” e pensadas pelos comunistas, incluindo seus grandes pedagogos, foi a Revolução Bolchevique, ocorrida na primeira metade do século XX, precisamente em 1917, sendo implantado nesse país, oficialmente, o governo comunista, que seguiu a teoria de Karl Marx [1] . “Em 1922 foi formada a União Soviética e o objetivo do governo era reconstruir a sociedade com bases comunistas e para isso era necessário redefinir o sistema educativo em sua totalidade”. (Rodríguez, 2002, p.1).

    Em seus escritos, ocasionais ou não, Lênin defende as linhas gerais de uma pedagogia socialista dando ênfase aos problemas organizativos da escola em uma sociedade comunista, ligados a “toda uma série de transformações materiais: construção de escolas, seleção de professores, reformas internas da organização e da relação do pessoal docente” (Cambi, 1999, p.558), transformações estas que requerem “uma longa preparação” (Idem).

    De 1917 a 1930 a Rússia foi caracterizada por um forte entusiasmo construtivo e por uma vontade profunda de renovação das instituições, partindo do trabalho de alguns pedagogos como Anatol Vassilevic Lunaciarki (1875-1953) e Nadeska Konstantinovna Krupskáia (1869-1939) [2] . No entanto, uma parte da época pré-stalinista da escola soviética está profundamente ligada à figura do maior pedagogo russo do século, Anton Semionovitch Makarenko, e outra parte de sua experiência ao governo de Stalin, que assume o poder em 1928, quando ocorre a morte de Lênin.

     formar o homem comunista, o governo propunha uma educação obrigatória, gratuita e universal em todos os níveis.

     Para tanto as autoridades desenvolveram intensas reformas administrativas: as escolas públicas ficaram sobre a responsabilidade absoluta do Estado – foi proibido o ensino particular e a igreja foi excluída como instituição educadora -; implantou-se um sistema dual para preparar os professores – escola normal de um ano para formar os professores de ensino elementar e institutos de professores para a formação de professores do nível elementar superior -; controle dos livros de texto com o intuito de evitar a infiltração de qualquer doutrina alheia à formação da personalidade do homem soviético. (Rodríguez, 2002, p.1).

     O maior pedagogo russo do século desenvolveu métodos educativos que tinham como objetivo a formação do novo homem soviético e suas ideias eram baseadas em uma formação moral e o desenvolvimento da personalidade comunista.

     A atividade pedagógica de Makarenko insere-se diretamente no clima carregado de tensões e de esperanças da Rússia pós-revolucionária, vivendo não só a intensa construção de uma “ordem nova”, bem como os entusiasmos por uma profunda transformação do homem, caracterizado agora por um forte engajamento social (e não por uma atitude individualista) e por normas “novas” no campo ético. (Cambi, 1999, p.559).

Margarita Victória Rodriguez

Francely Aparecida dos Santos

Karen Aguiar da Costa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

 MAKARENKO, Anton. Poema Pedagógico. Lisboa. Livros Horizonte, 1980. tomo I, II, III.

 RODRIGUEZ, Margarita Victoria. Para uma releitura do “mestre” Makarenko: Notas de uma pedagogia concreta, 2002.


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