Piaget chama de epistemologia a sua teoria do conhecimento porque está centralizada no conhecimento científico. E também de genética porque,
além de atentar-se no como é possível alcançar o conhecimento - ele
estuda as condições necessárias para que a criança (bebê) chegue na fase
adulta com conhecimentos possíveis a ela. Disto, surge o termo em
Piaget epistemologia genética ou psicogenética.
Em sua posição epistemológica, cujos
fundamentos implicam uma franca oposição aos
pensamentos empíricos e
racionalistas, nos quais se busca
explicar o processo que ocorre no desenvolvimento cognitivo do homem. Suas principais bases são:
- O sujeito está ativo, processando as informações enviadas a ele por seus sentidos, com base em seus quadros conceituais chamados esquemas.
- Esquemas são construídos à medida que o sujeito
(indivíduo) interage com o objeto (do conhecimento).
- O sujeito constrói seus esquemas interpretativos, à
medida que ele e o objeto interagem.
- É necessário que o sujeito aja sobre o objeto de
forma física e - principalmente mental, para conhecê-lo; isso faz com que o
sujeito mude suas estruturas mentais, por isso diz-se que o sujeito age sobre o
objeto e sobre o assunto.
- À medida que o conhecimento do objeto avança,
torna-se mais complexo e são
necessários níveis mais avançados de desenvolvimento do conhecimento, ou seja,
um conhecimento mais profundo do objeto é obtido. objeto, mas nunca total.
- Mudanças no nível cognitivo do sujeito requerem um
momento de ajuste entre as estruturas mentais anteriores e as novas.
Ao contrário dessa abordagem cujo ponto de partida é
a ação, os anteriores não concebem uma interação entre o objeto e o sujeito,
mas explicam o problema do conhecimento em um único sentido, seja do objeto ou
com a primazia do sujeito. Para esclarecer melhor essas posições, o empirismo e
o racionalismo estão estabelecidos abaixo:
Empirismo:
- O sujeito é passivo, ou seja, ele não
processa a informação.
- Conhecimento é a cópia simples de
informações sobre as características do objeto.
- Os esquemas são o produto da experiência
sensorial acumulada.
- A estrutura cognitiva é meramente
cumulativa.
Racionalismo:
- O sujeito é ativo na prática de que processa
as informações enviadas a ele por seus sentidos com base em seus quadros
conceituais (esquemas).
- Esquemas são inatas.
- A estrutura cognitiva já está formada, só é atualizada
para aceitar o novo conhecimento.
- descreve as características do pensamento sensório-motor, pré-operatório, concreto e formal;
- apresenta uma análise sistemática da gênese das noções básicas do pensamento racional (espaço, tempo, causalidade, movimento, lógica das classes, lógica das relações, etc.) ;
- aborda como se dá o desenvolvimento e aprendizagem ;
- explica como se dá assimilação e acomodação conflito cognitivo.
Em
princípio os educadores seguidores da teoria psicogenética acreditavam
que a psicologia e a epistemologia genética possuíam a chave para
solucionar, se não todos, pelo menos alguns dos problemas educacionais
mais importantes. Porém mais adiante os educadores decepcionaram-se ao
verificar que, na prática educacional, os resultados são
surpreendentemente pequenos em relação aos esforços despendidos. Isto
talvez devido a teoria genética ser de difícil compreensão e também pela
forma como essa teoria foi colocada nas escolas, com objetivo de
análise dos problemas relacionados a educação. Mesmo assim, a visão
piagetiana vem sendo usada e discutida nos meios educacionais.
Na teoria piagetiana, o sujeito (aluno) é um ser ativo que estabelece relação de troca com o meio-objeto (físico,
pessoa, conhecimento) num sistema de relações vivenciadas e
significativas, uma vez que este é resultado de ações do indivíduo sobre
o meio em que vive, adquirindo significação ao ser humano quando o
conhecimento é inserido em uma estrutura – isto é o que denomina assimilação.
A aprendizagem desse sujeito ativo exige sempre uma atividade
organizadora na interação estabelecida entre ele e o conteúdo a ser
aprendido, além de estar vinculado sua aprendizagem ao grau de
desenvolvimento já alcançado.
As
questões fundamentais abstraídas pelos educadores, quando estes
inteiraram-se com a obra de Piaget, para elaborarem suas metodologias,
diz respeito ao processo ensino-aprendizagem. Importante aqui destacar
as questões do desenvolvimento e aprendizagem. Piaget defende a ideia
que, antes da aprendizagem, é necessário o desenvolvimento das funções
psicológicas. Ou seja, ao preparar determinada aula (conteúdo
específico), o professor deve estar consciente sobre o estágio de
desenvolvimento que o aluno se encontra.
Como
já mencionado, pela teoria piagetiniana, os seres humanos somente
conhece a realidade atuando sobre ela, por isto ele estabelece
intercâmbio com o meio mediatizados pelos esquemas de ação e pelos esquemas de representação.
Os esquemas de ação podem ser compreendidos como os primeiros reflexos
(sugar, pegar entre outros), que a criança tem; além de incluir tudo o
que é generalizado numa determinada ação. Por outro lado, os esquemas de
representação só tornam possíveis quando a criança adquiriu a função
semiótica, ou seja, capacidade de distinguir entre significante e
significado - ela passa a representar suas ações, situações e
experiências através destes esquemas.
É
através dos esquemas de ações e representações que as crianças entram
em contato com o meio, cada objeto novo as crianças tentam encaixá-las
em seus esquemas. É graças aos esquemas que podemos interpretar, dar
significado ao meio tornando-o possível apreendê-lo. Num ponto de vista
da aprendizagem, conclui-se que a capacidade dos seres humanos para
aprender com experiência depende dos esquemas que utilizam para
interpretá-la e lhe dar significado. Enquanto, para o processo ensino
aprendizagem a capacidade do aluno aprender depende não somente do
ensino, mas também das formas ou estruturas de pensamento que ele
predispõe para assimilar o ensino, ou seja, depende do nível de
competência cognitiva do aluno.
Em
Piaget, o mecanismo da equilibração tem um jogo duplo de assimilação e
de acomodação e depois, busca permanente de equilíbrio entre a tendência
dos esquemas para assimilar a realidade e a tendência contrária para se
acomodar e modificar-se para atender às suas resistências e exigências.
Este é o motor do desenvolvimento cognitivo humano, as trocas com o
meio e o sujeito resultando estado sucessivo de equilíbrio mutável,
separados por fases mais ou menos duradouras de desequilíbrios e de
busca de um novo equilíbrio.
A
teoria psicogenética centrou sua atenção na psicogênese, no estudo das
formas mais primitivas de conhecimento até as mais complexas. Esta
teoria descreve em esquemas de ação interiorizada ou esquemas
representativos por regras de combinações de esquemas ou operações. De
forma bastante detalhada Piaget trata as etapas de evolução desses
esquemas e de forma organizada, desde o nascimento até a idade adulta.
Podendo ser classificada os períodos da inteligência em quatro estágios
abaixo descritos:
- Sensório-motor (0 aos 18/24 meses aproximadamente): nesta fase a criança está explorando o meio físico através de seus esquemas motores.
- Pré-operatório (2 anos a mais ou menos 7 anos): a criança é capaz de simbolizar, de evocar objetos ausentes. Estabelece diferença entre significante e significado, o que possibilita distância espaço-temporal entre o sujeito e o objeto, por meio da imagem mental. A criança é capaz de imitar gestos, mesmo com a ausência de modelos.
- Operatório Concreto (7 a 11 anos): a criança tem a inteligência operatória concreta, sendo capaz de realizar uma ação interiorizada, executada em pensamento, reversível, pois admite a possibilidade de uma inversão e coordenação com outras ações, também interiorizadas. Necessita de material concreto, para realizar essas operações, mas já está apta a considerar o ponto de vista do outro, sendo que está saindo do egocentrismo.
- Formal (entre os 9/10 anos aos 15/16 anos): o adolescente tem as estruturas intelectuais para combinar as proporções, as noções probabilísticas, raciocínio hipotético dedutivo de forma complexa e abstrata.
Assim,
as noções da gênese que são admitidas pela concepção piagetiana quanto
aos esquemas que os alunos utilizam num determinado momento de sua
escolaridade, estão em parte determinados ou condicionados pelo nível de
desenvolvimento operatório que alcançaram.
Mas
o que determinará se um aluno tem ou não a possibilidade de levar a
cabo um raciocínio complexo e abstrato do tipo formal, como afirmado em
[Coll (1997), p.157],
está estreitamente relacionado com seus esquemas de assimilação e de interpretação da realidade e consequentemente com sua capacidade de aprender e tirar proveito do ensino sistemático a propósito de um conteúdo escolar concreto como, por exemplo, os mecanismos de participação dos cidadãos no funcionamento de um sistema democrático (...).
Para Piaget, o sujeito estabelece ação de troca com o meio, o qual pressupõe duas dimensões: a assimilação e a acomodação.
Por isso, esse sujeito age ativamente sobre o objeto, de forma que
assimila-o, apropriando-se desse objeto. Com isto, cria em si para este
objeto um significado próprio, na medida que interpreta-o de acordo com a
sua possibilidade e fase cognitiva; faz-se entender que havendo uma
acomodação resulta em reestruturação dos esquemas anteriores, o que
entende-se que tem produzido aprendizagem ou mudanças cognitiva. Ou
talvez, o sujeito por não ter as estruturas cognitivas suficientemente
maduras, age no sentido de se transformar ajustando-se num esforço
pessoal às resistências impostas pelo objeto do conhecimento, agindo
sobre suas próprias estruturas alterando-as para acomodar o objeto
experienciado. E assim, estas duas dimensões, assimilação e acomodação,
estão intimamente ligadas, de forma que, sem assimilação (interpretação
ativa), de determinado objeto (conteúdo) não haveria a acomodação das
estruturas psicológicas do aluno. A todo esse processo dá-se o nome de equilibração, que é o verdadeiro motor do desenvolvimento e do progresso intelectual. Como afirmado em [Coll (1997), p.155],
A
tendência ao equilíbrio nos intercâmbios funcionais entre o ser humano e
o meio no qual vive se encontra no núcleo da explicação genética do
desenvolvimento. O duplo jogo da
assimilação
e da acomodação é presidido pela busca permanente de equilíbrio entre a
tendência dos esquemas para assimilar a realidade à qual se aplicam e a
tendência de sinal contrário para se acomodar e modificar-se para
atender às suas resistências e exigências
Nesta
teoria conhecer implica mudanças dos esquemas de interpretação da
realidade conhecida. Essas mudanças não é fruto de uma simples leitura
da realidade e nem pura cópia da experiência. Além dos esquemas de ações
e representações e as estruturas do pensamento não se modificarem no
sentido de irem se acomodando simplesmente às exigências impostas pela
assimilação da realidade. Essas resistências estão certamente na origem
da modificação dos esquemas, mas as mudanças se dão mediante o resultado
de um complexo e intrincado processo de modificação e reorganização dos
próprios esquemas. A teoria genética propôs no modelo desta dinâmica da
mudança e do progresso intelectual: o modelo da equilibração.
À medida que os seres humanos estabelecem intercâmbio com o meio no
qual vive existe uma tendência ao equilíbrio. Esta equilibração não
ocorre simplesmente para recuperar o equilíbrio perdido, mas sobretudo,
numa tendência para recuperar o equilíbrio num nível superior ao que era
permitido pela organização de esquemas que precedeu a perda do
equilíbrio.
É
importante destacar que os aspectos mais revisado por Piaget ao longo
de sua vida, diz respeito, a formação final de níveis sucessíveis de
equilíbrio: primeiro entre objetos-esquemas; segundo - entre esquemas;
terceiro - a elaboração de uma hierarquia de esquemas que permita
articular a relação entre eles. Quando algum destes três níveis de
equilíbrio se rompe, provoca desequilíbrio também entre o restante.
O
mecanismo de aquisição de conhecimento consiste em vincular os dois
elementos básicos de sua teoria. (equilíbrio e desequilíbrio). Isto
ainda se faz quando conclui que existe uma relação direta entre
desenvolvimento e a aprendizagem. De acordo com os resultados de
experiências piagetianas coincide que aprendizagem de operações, fatos,
ações, procedimentos práticos ou leis físicas dependem do nível
cognitivo do sujeito, o que significa que o grau de desenvolvimento é
determinante e torna-se inacessível uma nova aquisição a uma pessoa que
não esteja capacitada para ela, por fim a compreensão de problemas
somente é possível em momento evolutivo adequado.
É
a partir deste resultado de experiência que essa teoria teoria vai
corroborando a construção do objetivo da escola, como sendo, o de
desenvolver as capacidades dos indivíduos. Há uma tendência intrínseca
de identificar os programas educativos correspondentes as diferentes
idades, com as competências estabelecidas na teoria de Piaget, de forma
que o objetivo é desenvolver corretamente estas competências e construir
as estruturas mentais correspondentes.
Ainda
é objetivo dessa escola de acordo com as contribuições de Piaget a
importância concedida as características do indivíduo que aprende, uma
vez que com ela se descentrava enfoque que se colocava as ciências, os
conteúdos, como único elemento digno de consideração.
Ao
contrário do ensino tradicional, em que o indivíduo é considerado
¨tábua rasa¨ o qual a escola precisa enche-lo de conteúdos. A visão que
Piaget tem sobre o sujeito que possui conceitos - não científico, ou
seja, os chamados conceitos espontâneos que
lhe permite entender a realidade e relacionar-se com ela. À medida em
que esta relação vão sendo estabelecida com a realidade, o indivíduo
desenvolve conceitos espontaneamente durante o processo da própria
experiência da criança. Levar isto em consideração implica a escola ver o
aluno com experiências importantes, como ponto de partida para formação
dos conceitos científicos,
sendo possível o desenvolvimento deste último tão somente quando os
conceitos espontâneos da criança tem alcançado um nível determinado,
próprio do começo da idade escolar.
A
ideia acima defendida encaminha nos a outro elemento importante da
escola nessa teoria que enfatiza o interesse pelo desenvolvimento das
operações concretas e das operações formais, como autêntica capacidade
do indivíduo progredir. Dessa forma, as teorias pedagógicas influídas
pelo construtivismo genético em consolidação de ditas operações faz uso
de trabalho sistemático de procedimentos adequados.
Os
processos de instruções que as crianças recebem na escola ampliam suas
estruturas de pensamento em forma de pensamento mais elevados próprios
da formação de conceitos científicos.
Referências:
Coll, César. Piaget, o construtivismo e a educação escolar: onde está o fio condutor? In: Substratum: Temas Fundamentais em Psicologia e Educação, v.1, n.1 (Cem Anos com Piaget). Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. p.145-164.
Bassedas, E. Aprender e ensinar na educação infantil. Trad. Cristina M. Oliveira. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
Coutinho, M.T.C & Moreira, M. Psicologia da Educação 6o ed. Belo Horizonte. São Paulo: Pioneira, 1993.
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