Objetivos Educacionais
A seleção
dos objetivos de ensino é considerada um elemento fundamental no processo de
planejamento da prática educativa, pois dá segurança ao educador, orientando a
sua atuação pedagógica, ajudando-o na seleção dos meios mais adequados para a
realização de seu trabalho.
Podemos
definir objetivos educacionais como os resultados que o educador espera
alcançar por meio de uma ação educativa intencional e sistemática. A formulação
de objetivos é fundamental e prévia em qualquer atividade. Todo educador
precisa conhecer a meta que dará sentido aos seus esforços, pois não é possível
selecionar o itinerário mais adequado se não se sabe onde se quer chegar.
Historicamente,
os objetivos de ensino têm assumido diferentes formas de elaboração (tendo em
vista as Tendências da Educação: Tradicional, Escolanovista e Tecnicista). A
partir da década de 70 (após o modelo de desenvolvimento econômico de 1964)
pôde-se perceber, no sistema educacional brasileiro, uma grande ênfase na
proposta behaviorista de formulação de objetivos educativos, presente no modelo
pedagógico tecnicista, objetivos estes, que possam ser previstos, observados,
medidos e comparados. As raízes deste modelo, remontam aos E.U.A. nos anos 10,
quando começou a apologia da administração cientifica (mais conhecida como”
taylorismo”).
Segundo
Castanho (1989), o movimento chegou logo à educação e com ele, a busca de
eficiência na escola, à semelhança do que se fazia na fábrica. A visão da
escola como empresa, primando pela eficiência, fabricando em séries, aceitando
comportamentos esperados e repelindo comportamentos que fogem da previsão,
passou a dominar em tal perspectiva.
Esta ênfase
exagerada com a formulação muito precisa dos objetivos educativos, pareceu se
tornar suficiente para garantir a eficácia do desenvolvimento do processo de
ensino, através do desenvolvimento de processos de aprendizagem necessários, em
vez de toma-los (os objetivos educativos) como o
“(...) primeiro passo para estudar a ação que os processos de ensino têm
que desenvolver para que, estimulando e guiando os processos de aprendizagem, o
aluno alcance, de alguma forma, os objetivos propostos. O projeto consiste em
prever o processo de ensino mais adequado para despertar o processo de
aprendizagem nas condições precisas para que o aluno alcance as metas. Partir
de objetivos claros e definidos não é somente o primeiro passo para adequar o
projeto que prefigura tanto o processo de ensino como o de aprendizagem”.
(Sacristán em Merchan,2000 –p.37)
A crítica
realizada pelo autor citado, estabelece que esta pedagogia visa através da
educação, a mudança direcionada de comportamento, definida com exatidão nos
objetivos operacionais que devem ser alcançados para promover estas mudanças,
especificando:
1. O que o aluno deve fazer em termos de
conduta final;
2. Que objetivos específicos, o aluno
deve alcançar, através das estratégias de ensino (ações), para manifestar a
conduta prevista no objetivo geral.
Surgem
então taxionomias complexas combinando tipos de capacidades, condutas gerais,
condutas finais operativas, especificas, surgindo muitas interrogações como:
- Quantos
objetivos específicos são necessários para se considerar plenamente alcançado
um objetivo geral?
- Deverão
ser planejadas atividades de ensino correspondentes a cada objetivo específico,
para que se possa conseguir a aprendizagem prevista no objetivo geral?
- Quando
estará esgotado o mundo do observável, o significado de um conceito ou de um
objetivo geral?
- Quais
são os critérios de validação de uma hierarquia de objetivos?
- Que
indicações são oferecidas de como conseguir desenvolver e dinamizar os
processos necessários que influenciam o ensino?
Quadro Exemplo de Objetivos Operacionais e Atividades e Meios
Pedagógicos.
Metas |
Objetivos Gerais |
Objetivos Específicos |
Atividades e Meios Pedagógicos |
Aquisição
de métodos e técnicas
de como realizar pesquisas bibliográficas |
Apreensão
dos métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. |
Ao elaborar um projeto de pesquisa deve-se: Definir o TEMA ou área de interesse a ser investigada. (o que
pesquisar?) Elaborar uma justificativa da escolha do TEMA. (por que
pesquisar) Formular os
objetivos da pesquisa. (para que
pesquisar?) Elaborar um conjunto de tópicos que correspondam aos problemas
levantados, para serem solucionados pela pesquisa proposta. um plano de
assunto sobre o TEMA que se vai pesquisar. (que assuntos, dentro do TEMA –subtemas - serão pesquisados) Selecionar fontes e subsídios bibliográficos onde se fará a
pesquisa. (onde
pesquisar?) Selecionar os instrumentos que serão usados
para anotar os resultados da pesquisa. (onde e como anotar?) |
Pesquisar
a área de interesse, ou problema, que se quer investigar através da pesquisa.
Escrever os motivos, as
contribuições para compreensão, intervenção ou solução para o problema,
justificando a realização da pesquisa. Responder
o que é pretendido com a pesquisa e definir que objetivos deverão ser
atingidos ao término da investigação. Realizar
a leitura informativa - crítica
visando o levantamento de dados que respondam à área de interesse ou
problemas pesquisados. Seguir as
etapas técnicas da leitura informativa ou crítica. Anotar nos vários tipos de fichas, os dados coletados, através de
leituras e estudos sobre o assunto, seguindo o roteiro
para apontamentos.
Listar as obras bibliográficas
consultadas seguindo as normas da ABNT |
Em Merchan,2000 – p.39, Sacritán
argumenta:
“(...) uma psicologia que descreve o ser humano como algo estático, não
pode ajudar aos educadores a estabelecerem uma metodologia pedagógica para
alcançar esses resultados educativos”.
Segundo Castanho,1996,
os objetivos da educação são os resultados buscados pela ação educativa: comportamentos individuais e sociais,
perfis institucionais, tendências estruturais. Em outras palavras, são mudanças
esperadas como consequência da ação educativa nas pessoas e grupos sociais, nas
instituições de âmbito mais largo responsáveis por políticas educacionais.
Libâneo1991
– 120-130, afirma que:
1-Os
objetivos de ensino são importantes no desenvolvimento do trabalho docente,
pois o fato de que a prática educativa é socialmente determinada, respondendo
às exigências e expectativas dos grupos e classes sociais existentes na
sociedade, cujos propósitos são antagônicos em relação ao tipo de homem a
educar e às tarefas que este deve desempenhar nas diversas esferas da vida
prática. Procuramos destacar,
especialmente, que a prática educativa atua no desenvolvimento individual e
social dos indivíduos, proporcionando-lhes os meios de apropriação dos
conhecimentos e experiências acumuladas pelas gerações anteriores, como
requisito para a elaboração de conhecimentos vinculados a interesses da
população majoritária da sociedade.
2-Os
objetivos educacionais expressam, portanto, propósitos definidos, explícitos
quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos os indivíduos
precisam adquirir para se capacitarem para as lutas sociais de transformação da
sociedade. O caráter pedagógico da prática educativa está, precisamente, em
explicar fins e meios que orientem tarefas da escola e do professor para aquela
direção. Em resumo, podemos dizer que não há prática educativa sem objetivos.
3-Três são as referências para formulação dos objetivos
educacionais:
- Os valores e ideais proclamados na
legislação educacional e que expressam os propósitos das forças políticas dominantes
no sistema social.
- Os conteúdos básicos das ciências,
produzidos e elaborados no decurso da prática social da humanidade.
- As necessidades e expectativas de
formação cultural exigidas pela população majoritária da sociedade, decorrentes
das condições concretas de vida e de trabalho e das lutas pela democratização.
Essas
referências estão interligadas e sujeitas a contradições. Não podendo ser
tomadas isoladamente, pois por exemplo, os conteúdos escolares estão em
contradição não somente com as possibilidades reais dos alunos em assimilá-los
como também com os interesses majoritários da sociedade, na medida em que podem
ser usados para disseminar a ideologia de grupos e classes minoritárias. 0
mesmo se pode dizer em relação aos valores e ideais proclamados na legislação
escolar.
Isso
significa que a elaboração dos objetivos pressupõe, da parte do professor:
- Uma
avaliação crítica das referências que utiliza, em face dos determinantes
sócio-político da prática educativa.
- Uma
avaliação da pertinência dos objetivos e conteúdos propostos pelo sistema
escolar oficial, verificando em que medida atendam às exigências de
democratização política e social.
- Saber
compatibilizar os conteúdos com necessidades, aspirações, expectativas da
clientela escolar, bem como torná-los exequíveis face às condições sócio
culturais e de aprendizagem dos alunos.
- Se perceber como agente de uma
prática profissional inserida no contexto mais amplo da prática social, capaz
de fazer a correspondência entre os conteúdos que ensina e sua relevância
social, frente às exigências de transformação da sociedade presente e diante
das tarefas que cabe ao aluno desempenhar no âmbito social, profissional,
político e cultural.
Segundo
Libâneo, 1991, os professores que não tomam partido de forma consciente e
crítica, ante as contradições sociais, acabam repassando para a prática
profissional valores, ideais, concepções sobre a sociedade contrários aos
interesses da população majoritária da sociedade. Assim sendo, os objetivos
educacionais são uma exigência indispensável para o trabalho docente,
requerendo um posicionamento ativo do professor em sua explicitação, seja no
planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas.
Níveis de Objetivos Educacionais
Consideraremos, aqui, dois níveis de objetivos educacionais,
objetivos gerais e objetivos específicos:
Objetivos Gerais expressam propósitos mais amplos
acerca do papel da escola e do ensino, diante das exigências postas pela
realidade social e diante do desenvolvimento da personalidade dos alunos. Os objetivos Gerais, definem, em
grandes linhas, perspectivas da prática educativa na sociedade brasileira, que
serão depois convertidas em objetivos específicos de cada matéria de ensino,
conforme os graus escolares e níveis de idade dos alunos.
Os objetivos gerais são explicitados em três níveis de abrangência, do
mais amplo
ao mais específico:
a) pelo
sistema escolar, que expressa as finalidades educativas de acordo com ideais e
valores dominantes na sociedade;
b) pela
escola, que estabelece princípios e diretrizes de orientação do trabalho
escolar com base num plano pedagógico-didático que represente o consenso do
corpo docente em relação à filosofia da educação e à prática escolar; (Projeto
Político Pedagógico)
c) pelo
professor, que concretiza no ensino da matéria a sua própria visão de educação
e de sociedade.
Ao considerar os objetivos gerais e suas implicações para o
trabalho docente em sala de aula, o professor deve conhecer os objetivos
estabelecidos no âmbito do sistema escolar oficial, seja no que se refere a
valores e ideais educativos, seja quanto às prescrições de organização
curricular e programas básicos das matérias. Esse conhecimento é necessário, não apenas porque o trabalho
escolar está vinculado a diretrizes nacionais, estaduais e municipais de
ensino, mas também porque precisamos saber que concepções de homem e sociedade
caracterizam os documentos oficiais, uma vez que expressam os interesses
dominantes dos que controlam os órgãos públicos.
“Isto significa que não se trata simplesmente de copiar os objetivos e
conteúdos previstos no programa oficial, mas de reavaliá-los em função de
objetivos sócio-políticos que expressem os interesses do povo, das condições
locais da escola, da problemática social vivida pelos alunos, das
peculiaridades sócio-culturais e individuais dos alunos”. (Libanêo, 1991)
Objetivos Específicos de Ensino determinam exigências e resultados
esperados da atividade dos alunos, referentes a conhecimentos, habilidades,
atitudes e convicções cuja aquisição e desenvolvimento ocorrem no processo de
transmissão / assimilação ativa das matérias de estudo. Estes devem ser
vinculados aos objetivos gerais sem perder de vista a situação concreta
(escola, matéria, alunos) em que serão aplicados. Norteiam, de forma mais
direta, o processo ensino aprendizagem.
Na redação
dos objetivos específicos, o professor transformará tópicos das unidades de
ensino, em proposição (afirmação), onde se expresse o resultado esperado, que
deve ser atingido por todos alunos ao final daquela unidade. Os resultados
podem ser de:
CONHECIMENTOS (conceitos, fatos, princípios,
teorias, interpretações, ideias organizadas, etc.).
HABILIDADES (o que o aluno deve aprender para
desenvolver suas capacidades intelectuais:
organizar seu estudo ativo e independente; aplicar formulas em exercícios;
observar, coletar e organizar informações sobre determinado assunto; raciocinar
com dados da realidade; formular hipóteses; usar materiais e instrumentos como,
dicionários, mapas, réguas, etc.).
ATITUDES, CONVICÇÕES E
VALORES que se deve
desenvolver em relação à matéria, ao estudo, ao relacionamento humano, à realidade
social (atitude cientifica, consciência crítica, responsabilidade,
solidariedade, etc.)
Orientações que se deve observar ao formular objetivos
específicos:
- Formular objetivos consiste em
descrever os conhecimentos a serem assimilados, as habilidades, os hábitos e as
atitudes a serem desenvolvidos, ao
final do estudo dos conteúdos de ensino.
- Os objetivos devem ser redigidos com
clareza, realidade, expressando tanto o que o aluno deve aprender, como os
resultados de aprendizagem possíveis de serem alcançados.
- Nesta tarefa ainda deve-se levar em
conta, alem das orientações acima, o tempo que se dispõe, as condições em que
se realiza o ensino, a capacidade de assimilação dos alunos conforme a idade e
nível de desenvolvimento mental e a utilidade dos objetivos para motivar e
encaminhar a atividade dos alunos.
Alguns exemplos de redação de objetivos:
- Após diferenciar, os elementos que
compõem o ambiente de uma determinada região, explicar os seus diversos efeitos
sobre os seres vivos.
- Aplicar adequadamente as medidas –
metro, quilo, dúzia – em várias situações sociais reais.
- Resolver problemas de multiplicação
de um número com três algarismos por outro com dois algarismos.
- Relacionar unidades de medida
(comprimento, massa, volume, tempo, valor) aos tipos de objetos medidos.
Como se pode verificar nos exemplos acima, os objetivos podem
se referir a operações mentais simples
– “conhecimentos” – (definir, listar, identificar, reconhecer, usar, aplicar,
reproduzir etc.) e operações mentais
mais complexas – “habilidades intelectuais” – (comparar, relacionar,
analisar, justificar, diferenciar etc.).
Levando em
conta que se deve ter a preocupação de
formular com suficiente clareza os objetivos, e sem ter a necessidade de
se prender muito tecnicamente à sua “forma” de redação, há alguns verbos que
ajudam muito a explicitar com mais precisão ou operacionalidade, o que se
espera da atividade de estudo dos alunos:
apontar (num gráfico, num mapa), localizar, desenhar, nomear, destacar,
distinguir, demonstrar, classificar, utilizar, organizar, listar, mencionar,
formular etc. Estes verbos indicam a ação ou operação que se espera dos alunos
sem margem de dúvidas.
Os chamados
objetivos formativos, referentes a
atitudes, convicções, valores são expectativas do educador que podem se
transformar em objetivos, mas, deve-se ter em mente que eles não são
alcançáveis de imediato e sua comprovação não pode ser constatada
objetivamente. Estes objetivos formativos se referem à formação de traços de
personalidade, de caráter, de postura diante da vida, de atitudes positivas em
relação ao estudo etc.
A função dos objetivos específicos é ajudar o
professor a:
- Definir os conteúdos determinando os conhecimentos e
conceitos a serem assimilados e as habilidades a serem desenvolvidas para que o
aluno possa aplicar o conteúdo na vida prática;
- Estabelecer os procedimentos de
ensino e selecionar as atividades e experiências de aprendizagem mais relevantes a serem
vivenciadas pelos alunos, para que eles possam adquirir as habilidades e
assimilar os conhecimentos previstos, tanto para sua vida prática como para
continuação dos estudos;
- Determinar o que e como avaliar, isto é, especificar o conteúdo da
avaliação e selecionar as estratégias e os instrumentos mais adequados para
avaliar o que pretende;
- Fixar
padrões e critérios para avaliar o próprio trabalho docente – auto avaliação – com fins ao replanejamento;
- Comunicar, de modo mais claro e preciso, seus propósitos de ensino aos próprios alunos, aos pais e a outros educadores.
Objetivos Educacionais e a Seleção de Objetivos Específicos e Conteúdos de Ensino
De acordo
com Libanêo, 1991, alguns Objetivos Educacionais Gerais podem
auxiliar os professores na reavaliação dos objetivos previstos no programa
oficial, ajudando-os na seleção de objetivos específicos, que expressem os
interesses do povo, das condições locais da escola, da problemática social
vivida pelos e das peculiaridades socioculturais e individuais dos alunos
O PRIMEIRO OBJETIVO coloca a educação escolar no conjunto das lutas pela
democratização da sociedade, que consiste na conquista, pelo conjunto da
população, das condições materiais, sociais, políticas e culturais através das
quais se assegura a ativa participação de todos na direção da sociedade.
O SEGUNDO OBJETIVO consiste em garantir
a todas as crianças, sem nenhuma
discriminação de classe social, cor, religião ou sexo, uma sólida preparação cultural e científica, através do ensino das
matérias, possibilitando-lhes o compreender, o usufruir ou o transformar a
realidade. Todas as crianças têm direito ao desenvolvimento de suas capacidades
físicas e mentais como condição necessária ao exercício da cidadania e do
trabalho. Esse objetivo implica que as escolas não só se empenhem em receber
todas as crianças que as procurarem como também assegurarem a continuidade dos
estudos. Para isso, todo esforço será pouco no sentido de oferecer ensino
sólido, capaz de evitar as reprovações.
O TERCEIRO OBJETIVO o de assegurar
a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de suas potencialidades, tendo em vista auxiliá-las
na superação das desvantagens decorrentes das condições sócio-econômicas desfavoráveis.
A maioria das crianças capaz de aprender e de desenvolver suas capacidades
mentais. Este objetivo costuma figurar nos planos de ensino como
"auto-realização", "desenvolvimento das potencialidades"
etc., mas, na prática, os professores prestam atenção somente nos alunos cujas
potencialidades se manifestam e não se preocupam em estimular potencialidades
daqueles que não se manifestam ou não conseguem envolver se ativamente nas
tarefas.
O QUARTO OBJETIVO formar nos
alunos a capacidade crítica e criativa
em relação: as matérias de ensino e
a aplicação dos conhecimentos e habilidades em tarefas teóricas e práticas. A
assimilação ativa dos conteúdos toma significado e relevância social quando se
transforma em atitudes e convicções frente dos desafios postos pela realidade
social. Os objetivos da escolarização não se esgotam na difusão dos
conhecimentos sistematizados; antes, exigem a sua vinculação com a vida
prática. 0 professor não conseguirá formar alunos observadores, ativos,
criativos frente aos desafios da realidade se apenas esperar deles a
memorização dos conteúdos. Deve, ao contrário, ser capaz de ajudá-los a compreender os conhecimentos,
pensar sobre eles, ligá-los aos problemas do meio circundante. A capacidade crítica e criativa se desenvolve
pelo estudo dos conteúdos e pelo desenvolvimento de métodos de raciocínio, de
investigação e de reflexão. Através desses meios, sob a direção do
professor, os alunos vão ampliando, de forma objetiva, o entendimento, das
contradições e conflitos existentes na sociedade. Uma atitude crítica não significa, no entanto, a apreciação
desfavorável de tudo, como se ser "crítico" consistisse somente em
apontar defeitos nas coisas. Atitude
crítica é a habilidade de submeter os fatos, as coisas, os objetos de estudo
a uma investigação minuciosa e reflexiva, associando a eles os fatos sociais
que dizem respeito à vida cotidiana, aos problemas do trabalho da cidade, da
região, etc.
O QUINTO OBJETIVO visa atender a função educativa do ensino, ou seja, a
formação de convicções para a vida coletiva. O trabalho do professor deve estar
voltado para a formação de qualidades humanas, modos de agir em relação ao
trabalho, ao estudo, à natureza, em concordância com princípios éticos. Implica
ajudar os alunos a desenvolver qualidades de caráter como: a honradez, a dignidade, o respeito aos outros, a lealdade, a
disciplina, a verdade, a urbanidade e cortesia. Implica desenvolver a
consciência de coletividade e o sentimento de solidariedade humana, ou seja, de
que ser membro da sociedade significa participar e agir em função do bem-estar
coletivo, solidarizar-se com as lutas travadas pelos trabalhadores, vencer
todas as formas de egoísmo e individualismo. Para que os alunos fortaleçam suas
convicções, o professor precisa saber colocar-lhes perspectivas de um futuro
melhor para todos, cuja conquista depende da atuação conjunta nas varias
esferas da vida social, inclusive no âmbito escolar.
Ainda em relação ao atendimento da função educativa do ensino
devemos mencionar a educação física e a educação estética.
A educação física e os esportes ocupam um lugar
importante no desenvolvimento integral da personalidade, não apenas por
contribuir para o fortalecimento da saúde, mas também por proporcionar
oportunidade de expressão corporal, autoafirmação, competição construtiva,
formação do caráter e desenvolvimento do sentimento de coletividade.
A educação estética se realiza mais diretamente pela educação
artística, na qual os alunos aprendem o valor da arte, a apreciação, o
sentimento e o desfrute da beleza expressa na natureza, nas obras artísticas,
como música, pintura, escultura, arquitetura, folclore e outras manifestações
da cultura erudita e popular. A educação artística contribui para o
desenvolvimento intelectual, assim como para a participação coletiva na
produção da cultura e no usufruto das diversas manifestações da vida cultural.
O SEXTO OBJETIVO educacional se refere à
instituição de processos participativos, envolvendo todas as pessoas que
direta ou indiretamente se relacionam com a escola: diretor, coordenador de ensino, professores, funcionários,
alunos, pais. A par do aspecto educativo da organização de formas cooperativas
de gestão do trabalho pedagógico escolar, é de fundamental importância o
vínculo da escola com a família e com os movimentos sociais (associações de
bairro, entidades sindicais, movimento de mulheres, etc.). O conselho de escola
exerce, portanto, uma atuação indispensável para o cumprimento dos objetivos
educativos.
Esses objetivos não esgotam a riqueza da ação pedagógica
escolar em relação à formação individual e social dos alunos em sua capacitação
para a vida adulta na sociedade. Entretanto, podem servir de orientação para o professor refletir sobre as implicações
sociais do seu trabalho, sobre o papel da matéria que leciona na formação de
alunos ativos e participantes e sobre as formas pedagógico-didáticas de
organização do ensino.
Com essa visão de conjunto do trabalho escolar e com a
programação oficial indicada pelos órgãos do sistema escolar, o professor está
em condições de definir os objetivos específicos de ensino.
Os objetivos específicos particularizam a compreensão das
relações entre escola e sociedade e especialmente do papel da matéria de
ensino. Eles expressam, pois, as expectativas do professor sobre o que deseja
obter dos alunos no decorrer do processo de ensino. Têm sempre um caráter
pedagógico, porque explicitam o rumo a ser impresso ao trabalho escolar, em
torno de um programa de formação.
A cada matéria de ensino correspondem objetivos que expressam
resultados a obter: conhecimentos, habilidades e hábitos,
atitudes e convicções,
através dos quais se busca o desenvolvimento
das capacidades cognoscitivas dos alunos. Há, portanto, estreita relação
entre os objetivos, os conteúdos e os métodos.
O professor além de vincular os objetivos específicos aos
objetivos gerais, deve, também, seguir as seguintes recomendações:
- Especificar
conhecimentos, habilidades, capacidades que sejam fundamentais para serem
assimiladas e aplicadas em situações futuras, na escola e na vida prática;
- Observar uma sequência
lógica, de forma que os conceitos e habilidades estejam inter-relacionados,
possibilitando aos alunos uma compreensão de conjunto (isto é, formando uma
rede de relações na sua cabeça);
- Expressar os
objetivos com clareza, de modo que sejam compreensíveis aos alunos e permitam,
assim, que estes introjetem os objetivos de ensino como objetivos seus;
- Dosar o grau
de dificuldades, de modo que expressem desafios, problemas, questões
estimulantes e também visíveis;
- Sempre que possível, formular os objetivos como resultados a
atingir, facilitando o processo de avaliação diagnóstica e de controle;
- como norma geral, indicar os resultados do trabalho dos alunos (o que devem compreender, saber, memorizar, fazer, etc.).
Maria
Celita de Oliveira Parreiras Professora Titular da Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras - Universidade de Itaúna, MG, Brasil
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(Coleção
Os Pensadores – Aristóteles II) livro I, capítulo 1. CASTANHO, M. E.;
CASTANHO, S. E. M. Didática: o Ensino e suas Relações. Campinas, SP.
Papirus. pg. 53-75.
CASTANHO,
Maria Eugenia, “Os Objetivos Educacionais”. In. VEIGA, Ilma P.
Alencastro(coord.). Repensando a Didática. Campinas, SP, Editora
Papirus, 1989. pg. 53-64.
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral São Paulo, Editora Ática, 1999. pg.112-125
LIBÂNIO, José Carlos. Didática. São Paulo, Editora Cortez, 1991. MERCHÁN, Paloma Arroyo.
Teorías del Aprendizaje. Madrid, España, Taymar Reprografía S.L, 2000. pg. 37-38 MARTINS, Pura Lucia Oliver. “Objetivos de Ensino”. In. Didática Teórica – Didática Prática para além do confronto. São Paulo, Editora Loyola,1989. pg.23-30.
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