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A Descolonização da África

O processo começa após a Segunda Guerra Mundial com a ação conjugada dos movimentos de libertação nacional surgidos em alguns países e a maior ou menor disposição das potências coloniais de estabelecer novas formas de relação com os países africanos. O processo de independência é desigual e mais demorado do que na Ásia.

O surgimento das nações africanas no século XX é marcado por lutas contra os grupos dirigentes colonialistas e por guerras civis, já que muitas das fronteiras estabelecidas pelos novos países não obedeceram às divisões étnicas, linguísticas e culturais dos povos africanos. Alguns desses conflitos permanecem até hoje. Da mesma forma persistem sem solução os desequilíbrios econômicos e sociais no continente.
Porém, embora politicamente independente, as jovens nações africanas permaneceram, em sua maioria, com vários problemas de difícil solução. No plano econômico, continuaram tendo de exportar matérias-primas e gêneros agrícolas e importar produtos industrializados. Como os preços destes últimos tendem a subir sempre mais que os primeiros, tais nações mantiveram-se economicamente dependentes.
Outro problema que afeta as nações africanas é que reúnem grupos étnicos tradicionalmente rivais. Essa situação tem gerado guerras civis que, além de ensangüentar o solo africano, dificultam o crescimento dos países envolvidos. Esse problema tem sua origem na expansão imperialista do século 19, quando os europeus dividiram a maior parte da África entre si, reunindo dentro de fronteiras artificiais povos com costumes, línguas e religiões completamente diferentes. Na atualidade, os países africanos continuam lutando para se desvencilhar dessa terrível herança colonial e conquistar a independência plena. Nesse processo de luta, fundaram uma importante organização continental, a Organização da Unidade Africana (OUA), criada em 1963.
Reunião de líderes da União africana
Essa organização foi substituída pela União Africana (UA) a 9 de julho de 2002. Baseada no modelo da União Européia (mas atualmente com atuação mais próxima à da Commonwealth), ajuda na promoção da democracia, direitos humanos e desenvolvimento em África, especialmente no aumento dos investimentos estrangeiros por meio do programa NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África). Seu primeiro presidente foi o presidente sul-africano Thabo Mbeki.

A Conferência de Bandung

Em 1955, realizou-se na Indonésia a Conferência de Bandung, importante marco na organização política dos países do Terceiro Mundo (países subdesenvolvidos). As lideranças dos 29 países participantes dessa conferência rejeitaram a divisão mundial em dois blocos rivais (socialista e capitalista) e defenderam uma política de não-alinhamento automático com as superpotências.
Em Bandung, os representantes dos países do Terceiro Mundo condenaram o racismo, a corrida armamentista e proclamaram o direito de autodeterminação política, reprovando o colonialismo (dominação direta da metrópole sobre a colônia) bem como o neocolonialismo (dominação “mascarada”, em termos econômicos por meio de práticas imperialistas). Afirmaram que a submissão imposta aos povos afro-asiáticos era uma negação dos direitos fundamentais do homem e estava em contradição com a Carta das Nações Unidas, sendo um obstáculo à paz e a cooperação mundial.

Colônias inglesas

Nas regiões de colonização inglesa, o movimento descolonizador caracterizou-se, em geral, pela ruptura pacífica. Foram os casos, por exemplo, de Gana, Nigéria, Serra Leoa e Gâmbia. No Quênia, entretanto, a emancipação política foi precedida de conflitos violentos devido à resistência da população branca do país, que detinha 25 % das terras quenianas mais férteis.

Colônias francesas

O governo francês procurou negociar formas de ruptura pacíficas com diversos países, como Camarões, Senegal, Madagáscar, Costa do Marfim, Mauritânia etc. Em 1960, estava praticamente terminado todo o império colonial francês na África. Houve, no entanto, intensa luta armada na Argélia, colônia do norte da África, onde 10% da população era de origem francesa. Controlando a vida política e econômica do país, essa minoria populacional opunha-se à separação da França. Por isso, resistiu à Frente de Libertação Nacional (FLN), que, em 1954, iniciou as lutas pela independência.
As lutas pela independência da Argélia foram importantes temas de discussões políticas na França. Em 1961, o presidente francês Charles de Gaulle obteve, por meio de referendo popular, “carta branca” para negociar a paz na Argélia com a FLN. Apesar da resistência interna de grupos sociais mais conservadores, De Gaulle assinou, em 1952, o Acordo de Evian, que pôs fim às hostilidades e reconheceu a independência da Argélia. O saldo desses anos de conflito foi a morte de 25 mil soldados franceses e de quase um milhão de pessoas do movimento de libertação nacional argelino.

Colônias belgas

Na região de dominação belga – Congo –, o movimento de independência foi marcado pela violência, devido a uma série de conflitos internos entre os grupos políticos locais e, também, aos interesses internacionais na disputa das riquezas da região.
Em 1960, Patrice Lumumba, líder do Movimento Nacional Congolês, proclamou a independência do Congo. Pouco depois, iniciaram-se movimentos separatistas em algumas províncias congolesas, dentre elas Catanga, onde o líder Moise Tshombe, era apoiado por belgas interessados nas riquezas minerais da região. Para manter a unidade do país, Lumumba pediu auxílio às forças internacionais da ONU. Não obtendo apoio, Lumumba recorreu a União Soviética, o que provocou a reação dos grupos políticos ligados ao bloco capitalista.
O chefe do exército do país, prendendo Lumumba e levando-o para Catanga, onde o líder negro foi assassinado, em fevereiro de 1961. Mobutu conseguiu impor-se como ditador em 1965, quando o país passou a ser oficialmente denominado República do Zaire, e dirigiu esse país até 1997. Nesse ano, uma rebelião liderada por Laurent Kabila derrubou Mobutu do poder. Kabila, ao assumir o governo, retomou ao antigo nome do país: República Democrática do Congo. As disputas étnicas e políticas continuaram e provocaram violentos confrontos pelo país.

Colônias portuguesas

Uma das últimas regiões da África a conquistar sua independência foi a dominada por Portugal. Isso se deve às peculiaridades de Portugal, que, governado pela ditadura de António Salazar (1932-1968), manteve-se em posição de neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos do pós-guerra, o ditador português Salazar procurou manter o país isolado da onda liberal que se espalhou pelo mundo, evitando as pressões anticolonialistas. O regime autoritário. O regime autoritário salazarista foi prolongado pelo governo de Marcelo Caetano até 1974.
A resistência portuguesa à descolonização africana somente se desfez após a queda do regime salazarista, com a derrubada do governo de Marcelo Caetano pela Revolução de abril de 1974, que pregava o estabelecimento da democracia em Portugal e o fim do colonialismo. Essa revolução ficou conhecida como “Revolução dos Cravos”, pois parte da população festejou o fim da ditadura distribuindo flores aos soldados que participaram do movimento rebelde.
Dessa maneira, abriu-se caminho para a independência das colônias portuguesas de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola.

A África do Sul dividida: o apartheid

A África do Sul – região riquíssima em ouro e diamante – começou a ser ocupada pelos europeus em 1652, quando lá chegaram os primeiros holandeses. Desde então, os descendentes desses e de outros colonizadores, especialmente ingleses, apegaram-se à idéia da superioridade do homem branco. Apoiados nesse argumento, que comprovadamente não tem nenhum fundamento científico, criaram no século 20 uma política de descriminação racial chamada apartheid, que dizer separação. A partir de 1948, o apartheid foi oficializado na União da África do Sul (país independente e governado por uma minoria branca desde 1910).
Criaram-se leis que descriminavam os negros em locais de trabalho, escolas, igrejas, esportes e transportes públicos. Apesar de constituírem uma população quatro vezes maior do que a branca, os negros foram proibidos de possuir terras em 87% do território nacional. A elite branca estreitou também o seu controle sobre a indústria e a mineração. E, com uma parte dos fabulosos lucros extraídos dessas atividades, pôde armar e equipar as forças policiais que garantiram o apartheid por várias décadas.
Desde então, os negros, que constituem a parte maior da mão-de-obra no país, reagiram à exploração econômica e ao racismo, organizando movimentos e manifestações contra o governo sul-africano. A partir de 1961, o CNA, (Congresso Nacional Africano), partido que representa a maioria negra, passou a intensificar suas ações de protesto. Por causa disso, em 1964, Nelson Mandela e mais sete líderes da organização foram condenados à prisão perpétua. A luta contra o apartheid prosseguiu e ganhou grande projeção internacional a partir de 1976, ano em que o governo sul-africano ordenou um massacre no bairro negro de Soweto.
Logo depois, a ONU decretou a proibição da venda de armas ao país. Na década de 80, os conflitos raciais intensificaram-se, o governo aumentou a repressão e, em sua resposta, muitas empresas estrangeiras retiraram-se da África do Sul. Em 1960, cedendo a fortes pressões internas e externas, o governo sul-africano começou a atenuar o apartheid:

- os transportes, praias e centros de lazer passaram a ser multirraciais;
- os líderes do CNA foram libertados (Mandela, que estava preso há 27 anos, foi solto em 2/2/1991);
- as leis de propriedade da terra (que reserva a maior parte das terras à minoria branca) e do registro (que classifica cada cidadão pela cor da pele) foram anuladas (julho de 1991).
Nelson Mandela
Mesmo com esses avanços, as negociações entre o CNA de Mandela e o governo foram constantemente interrompidas pelo reinício dos atos de violência promovidos por grupos que não desejavam o fim do apartheid. Entretanto, essa oposição não foi suficientemente forte para impedir que Nelson Mandela fosse eleito presidente da República Sul-Africana (1994).

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