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Os Fenícios

Enquanto os povos semitas brigavam pelo domínio da Mesopotâmia, o mar Mediterrâneo era posse indiscutível de um povo de comerciantes que vivia numa estreita faixa de terra: os fenícios. Esse povo levou adiante a façanha de fazer com que as diversas culturas do Oriente Médio se conhecessem umas às outras.
As origens dos fenícios datam de aproximadamente 3000 a.C., época em que diversos agrupamentos de um povo que se autodenominava cananeu se estabeleceram no Oriente Médio, em uma região chamada Canaã, próximo ao atual Líbano.
Uma série de disputas de terras entre os povos que habitavam Canaã forçaram os cananeus a se estabelecerem em uma estreita faixa de terra, situada mais próximo ao mar.
Embora tivessem o mesmo idioma e a mesma cultura, os cananeus não criaram um Estado unificado, sob o governo de um único rei. Seus povoados, que ao longo dos séculos se transformaram em cidades, tinham administração própria. Por isso, são chamados de cidades-Estado. Esse foi o caso das cidades de Biblos, Sídon, Tiro, Ugarit e outras.

Os fenícios foram os grandes navegadores da Antiguidade, chegando até o Mediterrâneo ocidental e o Atlântico. Além disso, dizemos que eles ensinaram o mundo a ler, já que inventaram o alfabeto que usamos hoje.

Dispunham de poucas terras férteis para o desenvolvimento das atividades agrícola ou pastoril, mas contavam com um extenso litoral. Devido a essas características geográficas, que facilitavam mais o contato com o exterior, os fenícios dedicaram-se às atividades marítimas, sendo considerados os maiores navegadores da Antiguidade. Segundo Heródoto, esse povo foi o primeiro a contornar o continente africano, a serviço do faraó Necao.

Grandes comerciantes, comerciavam todos os tipos de mercadorias, inclusive escravos.  Dominaram o comércio do Mediterrâneo durante muito tempo. Fundaram colônias, como Cartago (norte da África) e Cádiz (costa da Espanha).

Localização e clima

A Fenícia era uma estreita faixa de terra entre os montes Líbano e o mar Mediterrâneo. É por essa costa que o Oriente Médio se comunica com o mar Mediterrâneo. O clima da região é variado. Nos vales faz calor e nas montanhas faz frio. A região é muito fértil por causa dos rios que a atravessam. Além disso, suas montanhas eram cobertas por florestas de cedros, cuja madeira era usada para construir barcos. No território da Fenícia, localizam-se atualmente o Líbano e a parte litorânea da Síria.

Um povo de comerciantes e marinheiros

Os fenícios eram um povo semita que se estabeleceu na Síria por volta de 3000 a.C. Logo depois, fixaram-se na região dos montes Líbano e na costa do mar Mediterrâneo. Os gregos os chamaram de púnicos ou penícios, que quer dizer homens vermelhos, porque eles usavam roupas tingidas de vermelho.

Um produto típico dos cananeus era um corante especial para tingir tecidos de vermelho-escuro. Conhecido como púrpura, esse produto era fabricado com base em um pequeno molusco encontrado no litoral da região e vendido por alto preço a diversos outros povos.

Os gregos chamavam a púrpura de phoenicia. Por isso, a região de Canaã passou a ser designada também por Phoenicia (Fenícia), e seus habitantes ficaram conhecidos como fenícios. Outro produto que comercializavam era o cedro, árvore bastante utilizadapara a construção de navios.

Os fenícios foram o único povo que se dedicou exclusivamente ao comércio, fazendo a ligação entre povos e culturas distantes e desconhecidas. Foram os maiores navegantes e descobridores da Antiguidade. As embarcações fenícias navegavam pelo Mediterrâneo levando e trazendo grande variedade de mercadorias. Em muitos dos locais pelos quais passavam – norte da África, regiões da Europa, ilhas do Mediterrâneo –, fundaram feitorias, que mais tarde se transformaram em cidades. A mais famosa delas foi Cartago, que se tornou uma grande potência.

Sua história caracterizou-se pela alternância da hegemonia política das principais cidades-estados. Os fenícios nunca tiveram um país unificado. Sempre foram um grupo de cidades confederadas, que se ajudavam umas às outras, mas eram independentes. A cidade mais forte liderava as demais, embora as cidades mais fracas mantivessem muita autonomia.

Várias cidades se sucederam nessa liderança. As principais foram: Biblos (2500 a.C.-1600 a.C.), cidade que comercializava papiros do Egito. Os gregos chamavam esses papiros de “biblos”, o que deu origem à palavra “livro”; Sidon (1600 a.C.-1300 a.C.) e Tiro (1200 a.C.-900 a.C.), de onde saíam os grandes comerciantes, por mar e por terra.   



Os fenícios foram o primeiro povo do Oriente Médio a fundar povoamentos e mercados no norte da África e na Europa. Exemplos disso são Cartago, no norte da África; Malta, no mar Mediterrâneo; Marselha, na França; e Sevilha, na Espanha. 

A decadência (701 a.C.-333 a.C.) 

O declínio das cidades fenícias começou a partir do século VII a.C, quando foram dominadas por diversos povos, entre eles babilônios, persas, gregos e romanos. Quando os impérios da Mesopotâmia se consolidaram, os fenícios começaram a participar de alianças militares. Nesse momento começou a decadência. Tiro foi saqueada em 701 a.C. pelos assírios e em 574 a.C. pelos caldeus, que a destruíram totalmente. As demais cidades se tornaram dependentes do império persa até que foram dominadas pelo exército de Alexandre Magno, em 333 a.C.

 Sociedade e economia

Assim como a história dos fenícios se confunde com a história dos demais povos do Oriente Médio, a cultura dos fenícios assimilou os avanços técnicos que outros povos desenvolveram e os exportou para as regiões com as quais eles mantinham relações comerciais.

O governo dos fenícios não era igual em todas as cidades. Em alguns casos, era exercido por um rei, hereditário ou eleito. Em outros, era exercido por um conselho supremo. Apesar da existência do rei ou do conselho, quem governava de fato era uma assembleia que reunia os comerciantes mais importantes da cidade.

A sociedade fenícia era constituída de sacerdotes, aristocratas, comerciantes, pessoas livres e escravos. E tinham uma estrutura rígida: sacerdotes e aristocratas ocupavam as posições mais destacadas. A sociedade fenícia tinha também uma camada de homens livres, que eram pescadores, artesãos e agricultores.

A importância da agricultura e da navegação para a sociedade fenícia permitiu o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática, vinculado ao cálculo do movimento dos astros. O conhecimento matemático favoreceu também a realização das atividades comerciais, tão presentes em sua economia.

Os fenícios foram o primeiro povo a produzir mercadorias em grande quantidade. Eles organizaram as primeiras “manufaturas”, por assim dizer, nas quais aplicavam os avanços que tinham aprendido com outros povos.

A maior parte dos produtos exportados pelos fenícios era feita nas oficinas dos artesãos, que se dedicavam à:

• metalurgia (armas de bronze e ferro, joias de ouro e prata, etc.);

• fabricação de vidros; fabricação de tecidos finos na cor púrpura (tintura obtida com uma substância avermelhada extraída do múrice; molusco do Mediterrâneo);

De várias regiões do mundo antigo, os fenícios importavam metais, pedras preciosas, perfumes, cavalos, cereais, marfim etc.

A religião

Os fenícios acreditavam em várias divindades identificadas com as forças da natureza, especialmente aquelas que garantiam a fecundidade do solo e que orientavam os navegadores. Adoravam um deus principal em cada cidade, geralmente chamado de Baal, representando o sol, a deusa Astartéia, a fecundidade, às vezes identificadas com a lua. Os outros deuses, como, por exemplo, Dagon, o deus do trigo, manifestavam o caráter destacadamente agrário da região. 

As ciências e as artes

Os fenícios não criaram nenhuma arte própria, pois imitavam tudo aquilo que os demais povos faziam. Mas eles aperfeiçoaram muitas das descobertas de outros povos. Os fenícios aperfeiçoaram a técnica da produção de vidro, inventada pelos egípcios, e aprenderam a tingir tecidos com os caldeus. Foram também grandes armadores de barcos. Sua frota foi a mais poderosa do mundo antigo. Além disso, especializaram-se na produção de armas de ferro e de bronze. As joias e os perfumes feitos pelos fenícios eram muito conhecidos.

Os fenícios também desenvolveram a geografia e a astronomia, que facilitavam a navegação e o reconhecimento das terras distantes. Eles chegaram até o oceano Atlântico. Desenvolveram, também, a geometria e o desenho, que aplicavam à construção de barcos.

Seu mais importante legado para a civilização ocidental foi, contudo, a elaboração de um sistema de escrita prático e simples, fundamentado num alfabeto de 22 letras. Esse alfabeto foi, posteriormente, adotado e aprimorado por gregos e romanos, constituindo-se na matriz de nossa escrita atual.

O desenvolvimento do alfabeto

O comércio colocou os fenícios em contato constante com diferentes povos. Além disso, eles viviam em uma região onde era possível encontrar grande variedade de línguas e escritas.

Há registros da utilização de escrita cuneiforme nos territórios fenícios por volta de 1000 a.C. Esse tipo de escrita era utilizada na região da Mesopotâmia e se disseminou entre os fenícios por meio das trocas culturais e comerciais entre as duas regiões. Além disso, a escrita hieroglífica também foi utilizada em documentos produzidos pelos fenícios, que a assimilaram possivelmente após contatos com os egípcios.

Aos poucos, os fenícios adaptaram esses tipos de escrita às suas necessidades. Para registrar suas transações comerciais, por exemplo, necessitavam de um sistema de escrita flexível e rápido. Assim, criaram um modelo de alfabeto com apenas 22 sinais – todos consoantes. Esse alfabeto utilizava letras para representar os sons das palavras e ficou conhecido como alfabeto fonético.

A invenção fenícia foi transmitida pelo Mediterrâneo, influenciando outros povos da região. Os gregos, por exemplo, incorporaram o alfabeto fonético e acrescentaram a ele cinco vogais, deixando-o com 24 letras, praticamente do modo como conhecemos hoje.

Esse alfabeto, por sua vez, influenciou os etruscos. Das 26 letras do alfabeto etrusco, os romanos assimilaram 21 na criação do alfabeto latino. Composto apenas de letras maiúsculas, o alfabeto latino se espalhou pelo Mediterrâneo, nas regiões conquistadas pelos romanos. As letras minúsculas foram acrescentadas séculos depois, durante a Idade Média.

    

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