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Esparta: cidade dos guerreiros

Esparta era uma polis fechada, guerreira, de vida extremamente simples, rude e de poucas palavras. Situada em uma região chamada Lacônia, os hábitos ríspidos de sua população deram origem ao adjetivo lacônico, que caracteriza a pessoa de pouca conversa e de respostas curtas. Até quando falamos de uma vida espartana, estamos nos se referindo a uma vida extremamente dura e difícil.
Esparta é um caso particular dentro do estudo da civilização grega, fundada pelos dórios, sua arquitetura não era tão refinada como a de outras cidades-estados, seus cidadãos não manifestavam grande preocupação com as artes ou a filosofia e seu processo de urbanização não foi sequer concluído. A grande característica dos espartanos seria a sua extrema especialização militar, preocupavam-se em enrijecer os músculos e o espírito e em realizar operações de guerra simuladas. O filósofo grego Platão afirmara certa ver que quando visitou Esparta não teve a sensação de estar em uma cidade, mas em um “Acampamento militar”.

Estrutura Legislativa: As leis que vigoraram nesta cidade são creditadas a um lendário legislador chamado Licurgo que, segundo a tradição oral, as teria recebido do deus Apolo. O autor da constituição espartana teria em seguida partido para um exílio voluntário, afirmando que o conteúdo do código não deveria ser alterado na sua ausência. Entendemos que o envolvimento com o sagrado no processo de construção da constituição espartana é um importante fator ideológico para a sua manutenção, pois dificultava a sua contestação pela população da cidade.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Na composição da estrutura social espartana percebemos a existência de três grupos, provavelmente estabelecidos um pouco depois da efetivação da conquista dórica, são eles:

ESPARTANOS: Também chamados por alguns autores de esparciatas, representam a única camada social que detinha a cidadania espartana, concentravam as suas forças em duas atividades fundamentais: a guerra e a política. Segundo uma característica bem comum entre os segmentos mais abastados das sociedades antigas, os espartanos se recusavam a realizar trabalhos agrícolas e outras tarefas consideradas inferiores.
PERIECOS: Camada intermediária, composta de homens livres que não detinham o direito de cidadania. Viviam na periferia do núcleo urbano de Esparta, atuando no artesanato e num discreto comércio, sendo obrigados a pagar tributos ao Estado.
HILOTAS: Compunham a maioria esmagadora da população espartana (cerca de 80%). Podemos identificar tanto características de escravo quanto de servo em um hilota, já que embora o seu trabalho se assemelhasse ao servil (entregava uma parte da produção aos espartanos), era considerado propriedade estatal. Ao longo da história, os hilotas protagonizaram, com certa frequência, inúmeras tentativas de levantes, sempre duramente reprimidas pelo exército. Tal situação fez com que os soldados ficassem sobre constante estado de alerta, mantendo os hilotas sobre pesada vigilância e realizando as kríptias.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

a) A Oligarquia Espartana: A vida política dos espartanos não sofreu variações significativas ao longo dos séculos, mantendo a estrutura oligárquica, na qual a terra e os escravos pertenciam ao Estado, sendo usufruto dos cidadãos.

b) Formação do Cidadão: Direitos políticos e civis eram para poucos, apenas para a camada dos espartanos, a esmagadora maioria da população estava totalmente desprovida de qualquer benefício jurídico oferecido pelo Estado. A definição de um cidadão espartano toca necessariamente em duas questões, a origem do indivíduo e as práticas de guerra, já que podiam receber a educação militar somente os filhos de espartanos. Aos 30 anos a formação do soldado seria concluída, a partir deste momento conquistariam o direito de casar e de participar politicamente. De fato, até os sessenta anos, a vida do homem era dedicada ao estado e à guerra.

c) O Aparelho Político

DIARQUIA: Realeza dual e eletiva. Os dois reis eram escolhidos dentre as principais famílias da cidade, tendo atribuições militares e religiosas. Em tempos de guerra, um se deslocava com as tropas enquanto o outro permanecia na cidade. A existência dupla de reis deve-se, provavelmente, ao receio de que ocorresse um regime autocrático na cidade.

GERÚSIA: Conselho de anciãos. Composto por 28 gerontes, chegava a 30 quando os reis participavam das reuniões. A Gerúsia tinha caráter vitalício e mantinha atribuições legislativas e consultivas, além de escolher os reis.

EFORATO: O mais importante órgão do aparelho político dos espartanos. Composto por um total de cinco membros, os éforos tinham um mandato anual e eram responsáveis pela organização das reuniões na Apela e na Gerúsia, podendo vetar leis e denunciar indivíduos que comprometessem a ordem espartana.

APELA: Assembleia popular. Todos os cidadãos espartanos podiam participar, reuniam-se com a finalidade de votar leis e decidir sobre questões de política externa. Suas reuniões não primavam pelos longos debates, a votação era feita pelo levantar simples dos braços.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

a) A questão militar: Praticamente todas as atividades promovidas pelo Estado e pelos espartanos estavam diretas ou indiretamente ligadas à guerra, o ambiente era sempre marcado por jogos, exercícios, treinamentos e preparação para os confrontos. Era hábito comum aos soldados abandonar suas mulheres em casa para almoçarem todos juntos no quartel, reforçando deste modo à união da tropa.

b) Patriotismo Inflamado: O mais alto valor para um espartano deveria ser Esparta, sua pátria.

c) Xenofobia: Poucos estrangeiros circulavam pela cidade e não eram vistos com bons olhos pelos espartanos que receavam a espionagem.

d) Eugenia: Os espartanos tinham uma preocupação obsessiva com o que se entendia ser a “qualidade” de sua raça. A necessidade de se constituir um exército forte acabaria requerendo um material humano de primeira linha, dessa maneira, mantinham um acompanhamento cuidadoso na gravidez de suas mulheres que eram levadas para fazer exercícios que possibilitassem uma melhor gestação. Ao nascer a criança era avaliada por uma comissão de anciãos que buscava observar se o recém-nascido apresentava saúde perfeita, caso contrário ocorreria a sua execução (infanticídio).

e) Educação: Oferecida pelo Estado, a educação espartana era voltada para a preparação dos soldados. Desde muito cedo, aos sete anos de idade, os filhos dos cidadãos eram entregues aos cuidados do ensino estatal e recebiam o pouco do conhecimento letrado que sua formação lhe dispensaria. Durante a maior parte de seu tempo, os aprendizes realizariam pesadíssimas cargas de exercícios físicos e diversas atividades que visavam enrijecer o corpo e a personalidade. As meninas recebiam uma intensa preparação física e moral, para que na idade adulta pudessem gerar filhos sadios e, consequentemente, fortes guerreiros para o Estado espartano. Quando nascia uma criança fraca e doente, que não podia ser um futuro guerreiro, ela era atirada a um precipício, pois não atendia aos interesses do grupo dominante.

f) Laconismo: Ao contrário dos atenienses, que desde muito cedo realizavam estudos de retórica e eloqüência com o objetivo de aprimoramento de seus discursos, os espartanos caracterizavam-se pelo hábito de falar pouco, ou somente o indispensável. Compreendemos que a redução da oratória nesta cidade provoca um controle da capacidade crítica entre os espartanos e, com isso, debates e questionamentos não seriam comuns no cotidiano de Esparta. Este laconismo contribuiria muito para o conservadorismo político e institucional.

g) Kríptias: Consistia numa matança periódica de hilotas. Já mencionamos aqui o medo presente entre os espartanos de uma grande rebelião deste segmento social, neste sentido, seria de suma importância controlar o seu crescimento populacional eliminado de tempos em tempos uma parcela de hilotas. As kríptias também teriam uma grande importância na formação dos soldados, já que através delas, os jovens aprendizes poderiam viver a experiência de matar homens, necessidade constante de qualquer sociedade belicosa.

h) A Mulher Espartana: No mundo antigo, de um modo geral, as mulheres eram percebidas como inferiores aos homens, permanecendo sujeitas a sua vontade do nascimento até a morte. Em Esparta, especificamente, o gênero feminino apresentava pequenas regalias em relação ao restante da Grécia. Por ser responsável pela procriação – fornecimento de novos soldados, portanto -, a mulher de um cidadão era tratada com certos cuidados, praticando inúmeros exercícios físicos e recebendo o acompanhamento adequado. Acompanhe nas palavras de Xenofonte: “Licurgo achava que a tarefa principal das mulheres livres deveria ser a maternidade. Para tanto, ele prescreveu exercícios e corridas, tanta para as mulheres quanto para os homens. Estava convencido de que, se os dois sexos fossem ambos vigorosos, eles teriam filhos mais robustos”.


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