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Japão, China, Vietnã e os Tigres Asiáticos

 Japão: uma história recente

Até o século XIX, o Japão manteve-se isolado dos demais do mundo, tanto em termos culturais quanto econômicos. Entretanto, a partir de meados do mesmo século, esse isolamento foi sendo rompido.
Em 1853, o governo dos Estados Unidos enviou ao Japão uma pequena frota de três navios de guerra para tentar forçar o governo japonês a mudar sua política e permitir contatos com outras nações. A frota americana, comandada pelo almirante Matthew Perry, invadiu o porto de Tóquio e entregou ao governo uma carta solicitando um acordo comercial com os Estados Unidos.
O acordo foi conseguido no ano seguinte. Outros países assinaram acordos comerciais semelhantes, e, assim, o comércio e as relações diplomáticas entre o Japão e o Ocidente se intensificaram tendo início no Japão um processo de industrialização.
Em 1868, assumiu o governo o imperador Mutsuhito. Seu reinado recebeu o nome de Era Meiji. E essa mudança política foi denominada restauração Meiji. Restauração porque tratava da volta ao trono da dinastia Meiji, depois de um longo tempo de governo dos shoguns, chefes militares que tinham de fato o poder no Japão.
Graças ao desenvolvimento econômico iniciado com a restauração Meiji, o Japão passou a ter uma economia muito forte. Foi constituindo um poderoso exército e criada uma marinha com navios bem equipados.
Entre 1904 e 1906, disputas por territórios levaram o Japão e a Rússia a um conflito armado do qual os japoneses saíram vencedores. Isso contribuiu para que o Japão consolidasse o controle sobre a província chinesa da Manchúria e sobre a Coréia, que, em 1910, foi transformada em colônia.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Japão aliou-se às potências que combatiam a Alemanha. Assim, apoderou-se de colônias alemãs do Oriente depois da derrota da Alemanha.

O Japão na Segunda Guerra Mundial

Os militares japoneses preparavam o país para torná-lo cada vez mais poderoso, tanto econômica quanto militarmente.
No início da Segunda Guerra Mundial, o Japão manteve-se afastado do conflito, mas simpatizava com a Alemanha. Ao mesmo tempo, alimentava hostilidades com os Estados Unidos e preparava-se para atacá-los. Em 1941, aviões japoneses bombardearam a base americana de Pearl Harbor, no Havaí, no oceano Pacífico. O Japão entrava assim decisivamente na guerra.
Embora o Japão tenha inicialmente obtido algumas vitórias militares sobre os Estados Unidos, veio a ser derrotado no final do conflito. Os norte-americanos foram tomando as posições dos japoneses, até encurralá-los em seu próprio território. Em 1945, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas, uma sobre a cidade de Hiroxima e outra sobre Nagasaki. Diante do efeito devastador das duas bombas, o Japão rendeu-se incondicionalmente.

O Japão após a guerra

Após derrota na Segunda Guerra Mundial, a sociedade japonesa apresentava um cenário dramático, com milhares de vidas sacrificadas e cidades inteiras destruídas pelos bombardeios aéreos. Entre eles, inclui-se o lançamento das primeiras bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
No plano econômico, reinava um verdadeiro caos. A produção agrícola e industrial estava arruinada, e o comércio exterior esteve paralisado pela quase total destruição da marinha mercante japonesa.
Oficializada a rendição de Japão, as tropas dos Estados Unidos ocuparam militarmente o país, em nome das forças aliadas. Durante sete anos, de agosto de 1945 até abril de 1952, os norte-americanos, com grande investimento de capitais, passaram a comandar o reerguimento socioeconômico japonês.
A política de recuperação foi dirigida pelo general americano Douglas MacArthur e consistiu numa série de reformas no Japão. Em 1946, por exemplo, já se elaborava uma nova Constituição para o país, inspirada na dos Estados Unidos.
A nova Carta Magna japonesa estabeleceu a criação de um regime parlamentar de seu governo e impôs severas limitações ao papel do imperador, obrigado a renunciar à tradicional origem divina de seu poder.
O objetivo básico das reformas era afastar totalmente a sociedade e a economia do Japão da influência do bloco socialista, que se expandia no continente asiático com a Revolução Chinesa comandada por Mao Tsé-tung. Tudo foi feito para que o Japão se transformasse num lugar seguro para as operações capitalistas na Ásia. Assim, estimulou-se o desenvolvimento industrial japonês com investimentos de capital norte-americano. De inimigo derrotado, o Japão transformou-se no mais importante aliado norte-americano no continente asiático.
Quando, em abril de 1952, o general MacArthur deixou o Japão, a sociedade japonesa exibia uma face inteiramente nova. Nos trinta anos seguintes, a economia japonesa atingiu um espantoso ritmo de crescimento que a transformou numa das mais importantes e competitivas do mundo, destacando-se nos setores eletrônicos, automobilístico e naval. Alguns analistas chamam esse processo de “milagre japonês”.
Nos dias atuais, a economia japonesa ocupa a segunda posição no mundo. Seu PIB representa cerca de 16% do PIB mundial. O poderio de suas indústrias e a força de seu sistema financeiro rivalizam com os norte americanos.
O Japão tornou-se o grande centro capitalista asiático. Em volta desse centro giram outros países, integrados pelos mesmos interesses econômicos: Coréia do Sul, Formosa ou Taiwan, Hong Kong, Cingapura, Tailândia e Filipinas.
Rompendo o isolamento que mantinham com o mundo, característico de boa parte de sua história, os empresários japoneses participam ativamente do comércio internacional, inundando os mercados mundiais com seus produtos industrializados. A outra face do “milagre japonês” foi, contudo, a descaracterização das tradições culturais do país, que se adaptaram ao estilo de vida das sociedades industriais europeias e norte-americana.

A China contemporânea

Os primeiros anos após a revolução foram de fechamento total para o exterior. A preocupação do novo governo era organizar a produção, sobretudo agrícola, a fim de garantir meios de sobrevivência a gigantesca população chinesa. Foram criadas cooperativas, nas quais os camponeses se reuniam para vender seus produtos e onde recebiam apoio financeiro, sementes e adubos para o cultivo. Foram organizadas também comunas, agrupamento de camponeses que produziam gêneros agrícolas, bem como produtos industriais em fábricas autogerenciadas.
Além da produção agrícola, o governo estimulou a exploração de carvão, a produção de aço e de maquinas, a construção de barragens para irrigação e canalização de rios, a construção de usinas hidrelétricas e a fabricação de armamentos pesados. A pesquisa nuclear e de exploração espacial também teve destaque; na década de 1960 a China explodia sua primeira bomba atômica, e na década de 1970 lançava seu primeiro satélite artificial.
Toda a atividade econômica era dirigida pelo Estado, que se responsabilizava pela planificação de todas as áreas da produção. Foi abolida a propriedade privada.
Nas primeiras décadas após a vitória da revolução socialista de 1949, a china manteve um relacionamento muito estreito com a União Soviética. Técnicos soviéticos trabalhavam em projetos industriais e de pesquisa em território chinês. Por volta de 1958 ocorreram desentendimentos entre o governo chinês e o governo soviético, fato que causou a retirada de todos os técnicos da União Soviética.
Devido ao fato de a população chinesa ser extremamente numerosa, boa parte dos trabalhos de construção de barragens e de canais era feita manualmente por milhões de trabalhadores, homens e mulheres, que faziam as tarefas em comum, agrupados em verdadeiros batalhões e seguindo padrões de disciplina militar. A mentalidade comunista, segundo Mao Tse-tung, devia basear-se na satisfação das necessidades coletivas e não individuais. A execução de obras públicas tinha por objetivo criar frentes de trabalho para o maior número possível de chineses.
A padronização e a igualdade social eram estampadas até mesmo nas roupas, iguais para todos, homens e mulheres: uma túnica cinza, fechada com grandes botões, com bolsos também grandes fechados por botões e calças da mesma cor. Na cabeça, um boné. Todos os chineses do presidente Mao ao trabalhador, vestiam-se com essa roupa. O objetivo era baratear seu custo e evitar distinção entre as pessoas.
Embora tenham-se alcançado resultados impressionantes, como a eliminação da miséria e da fome, redução do analfabetismo, garantia de assistência médica básica a toda a população, nem todos os problemas foram resolvidos. Faltavam habitações, e na área política houve uma crescente centralização.

A Revolução Cultural

Os estudiosos da China comunista afirmam que Mao temia um afrouxamento da participação política dos chineses. Para evitá-lo, idealizou em 1966 a Revolução Cultural: movimento de mobilização de estudantes e operários destinado a denunciar as pessoas que estariam se desviando dos princípios comunistas. Milhões de estudantes abandonaram as escolas e foram para o campo ajudar nos trabalhos de plantio e colheita, ao mesmo tempo que faziam pregação da doutrina comunista ensinada por Mao Tse-tung . Essa doutrina estava expressa em pequenas frases num livro chamado Os pensamentos do presidente Mao. Milhões de exemplares do livro foram distribuídos por toda a China. O livro foi também traduzido para muitas línguas e publicado em quase todos os países, inclusive no Brasil.
A atividade política dos estudantes e trabalhadores chineses ecoou em países da Europa e outros pontos do mundo ocidental, onde grupos estudantis se manifestavam a favor de reformas de cunho socialista. Em 1968, na França, uma mobilização de estudantes ameaçou derrubar o próprio governo. Movimentos guerrilheiros surgiram em muitos lugares, baseados nas idéias de pregadas por Mao Tse-tung.
A Revolução Cultural, contudo, provocou excessos, como violência contra intelectuais, dirigentes e chefes suspeitos de não se identificarem plenamente com o governo. Muitas pessoas foram perseguidas. Altos dirigentes perderam seus cargos, entre eles Deng Xiaoping, de quem falaremos mais adiante. O deslocamento de milhões de estudantes e operários pelo país – com o objetivo de reeducação – causou problemas na produção, comprometendo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.
O processo da Revolução Cultural dividiu o país. De um lado, estavam os seguidores de Mao Tse-tung, de outro, os chamados revisionistas, aqueles que não compartilhavam totalmente com a ideologia do líder, chamado na imprensa oficial de “o grande timoneiro”.

Começam as mudanças

Após o esmorecimento do movimento da Revolução Cultural, os dirigentes moderados voltaram a ter papel decisivo na condução do país. Um deles era o primeiro-ministro Chu Em-lai. Convencido da necessidade de procurar aliados e parceiros políticos e econômicos fora do mundo socialista, os dirigentes chineses iniciaram uma aproximação com os Estados Unidos. Assim, em 1972, o presidente Nixon foi convidado a visitar a China. Era o início de uma abertura comercial e cultural, depois de décadas de isolamento. Ao aproximar-se dos Estados Unidos, o governo chinês procurava contrapor-se à União Soviética, agora sua inimiga.
Mao Tse-tung, que havia comandado o país desde 1949, morreu em 1976. Seus aliados perderam rapidamente o poder, e os dirigentes moderados assumiram a condução do governo. Um dos novos governantes era Deng Xiaoping, afastado durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas, cujo objetivo era tentar alcançar o desenvolvimento tecnológico do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

A nova revolução de Deng Xiaoping

A iniciativa privada voltou a ser permitida. As cooperativas agrícolas e as comunas foram, aos poucos, desativadas. O capital estrangeiro foi admitido no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer. Começaram a surgir em todas as grandes cidades empreendimentos de toda sorte, originados de investimentos japoneses, americanos, coreanos, etc.
No plano político, porém, não ocorreu nenhuma abertura. O Partido Comunista não tem permitido o funcionamento de outros partidos. A participação popular nas decisões do governo é praticamente nula.
Em 1989, um amplo movimento de estudantes e intelectuais tentou forçar uma abertura política. Gigantescas manifestações levaram milhões de pessoas às ruas. Temendo perder o controle do governo, os dirigentes do país colocaram o exército nas ruas com tanques e carros blindados. Os tanques avançaram sobre os manifestantes concentrados na praça Tianmen. A onda de manifestações, denominada Primavera de Pequim, acabava em repressão total. A imprensa calculou mais de 2 mil mortes.
As reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, reativou antigos problemas, como prostituição, contrabando, corrupção e tráfico de drogas.
Na última década do século XX, a china aparecia como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc.

O Vietnã após a guerra

Terminada a guerra, em 1975, o Vietnã foi reunido sob um governo comunista, com capital em Hanói.
Milhares de pessoas do sul, contrárias ao novo regime, fugiram do país, a maioria em pequenos barcos, frequentemente assaltados por piratas ou surpreendidos por tempestades. Muitos morreram nessas fugas.
Com as mudanças no mundo socialista, no final da década de 1980, o Vietnã passou por reformas semelhantes às que a China adotou. Abriu a economia para o capital estrangeiro e para a iniciativa privada, mas manteve o controle político centralizado nas mãos do Partido Comunista. Empresas multinacionais, sobretudo japonesas, coreanas, norte-americanas e europeias, passaram a investir no Vietnã.
Em 1995, o Vietnã reatou relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Os tigres asiáticos

Durante a guerra fria, o governo dos Estados Unidos estimulou as empresas estadunidenses a investir em diversos países asiáticos, para evitar que eles se tornassem aliados dos países comunistas da região, especialmente da união soviética e da China.
Os investimentos feitos no Japão e na Coréia do Sul, bem como o apoio que os Estados Unidos prestaram a esses países, fizeram com que eles se tornassem altamente industrializados, exportadores principalmente de tecidos, automóveis e aparelhos eletrônicos. Além de contar com investimentos externos, o Japão e a Coréia do Sul adotaram políticas voltadas para a melhoria da educação, o que contribuiu para seu desenvolvimento econômico e tecnológico.
Nos anos 1980, muitas pessoas chegaram a acreditar que o Japão se tornaria um país mais rico do que os Estados Unidos, mas sua dependência dos consumidores estadunidenses não permitiu que isso ocorresse. Com seu enriquecimento, os japoneses passaram a investir nos países vizinhos, estimulando o processo de industrialização da Coréia do Sul, de Cingapura, de Taiwan e de Hong Kong. Por causa de seu acelerado desenvolvimento, esses países passaram a ser chamados de tigres asiáticos.

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