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Índia e China: Um olhar sobre o Oriente

Bem longe do Crescente Fértil, existiam outras sociedades que se desenvolveram ao mesmo tempo que as sociedades que estudamos até aqui. Entre elas as da Índia e da China. Localizadas no Oriente, essas sociedades mantinham contatos esporádicos com os egípcios, os mesopotâmios ou os fenícios.
A China e a Índia eram sociedades bastante diferentes daquelas que até agora conhecemos. As diferenças iam desde a organização política até a concepção de mundo, passando pelos costumes, religião, formas de trabalho, etc.
Essas características provocaram o fascínio e a curiosidade entre os povos das duas regiões. Ao longo do tempo, viajantes, mercadores e estudiosos percorreram o longo caminho que interliga esses dois mundos. Em cada um desses encontros, esses aventureiros desvendaram uma parte da cultura e das riquezas do outro.

1 – Índia

Há 5 mil anos, a península da Índia era habitada pelos dravidianos. Esse povo era governado por príncipes, conhecidos como marajás. Há 4 mil anos, a península foi invadida por povos arianos, de origem indo-européia.
Com cavalos e armas de metais (ferro e Bronze), os arianos venceram os dravidianos, impondo seu domínio sobre a região. A fusão cultural desses dois povos deu origem a cultura hindu, fortemente marcada pela religião, o vedismo.
Com base nos preceitos religiosos do vedismo, a sociedade indiana foi dividida em castas. Por esse sistema, os indivíduos eram agrupados de acordo com a origem social e as tarefas que realizavam. As diferentes camadas sociais não podiam se misturar.
As castas estavam fundamentadas na crença da pureza da alma. Acreditava-se que a natureza de cada indivíduo havia sido determinada pelos deuses e não podia ser misturada.
Assim, as castas eram rigidamente hierarquizadas, sem qualquer possibilidade de mudança social. Em outras palavras. Em outras palavras, um indivíduo não podia mudar de uma casta para outra.
Desde seu nascimento, a pessoa sabia onde poderia morar, quem poderia desposar, que atividades exerceria e até mesmo o modo de vestir e o que comer.
Entretanto, os hindus acreditavam na reencarnação, o continuo renascer da alma para alcançar estágios mais puros. Isso significava que em uma vida futura qualquer indivíduo poderia nascer em uma casta mais elevada.
A organização social da Índia compreendia inúmeras castas. No topo da hierarquia, destacavam-se:
• Os brâmanes – eram os sacerdotes, únicos que tinham acesso aos textos sagrados e eram responsáveis por sua rigorosa aplicação;
• Os guerreiros – que defendiam o território e ocupavam cargos políticos;
• Os mercadores – que se dedicavam ao comércio.
Havia ainda os párias ou intocáveis. Considerados os impuros, não pertenciam a qualquer casta social. De modo geral, realizavam atividades em que lidavam com animais mortos ou dejetos humanos. Eram sapateiros, curtidores, coveiros, limpadores de fossa.

A formação da Índia

No século III a.C., sob o comando de Asoka, a Índia foi unificada e organizada. Surgia assim o primeiro império indiano.
Durante o reinado de Asoka, foi tolerada a prática de todas as religiões, embora o próprio imperador tivesse se convertido ao budismo.
Surgido no século VI a.C., o budismo conquistava inúmeros adeptos ao negar o sistema de castas e pregar, entre outras coisas, que a realidade era mutável.

Religiões

Como se pode perceber, a religião exerceu importante papel na história da Índia, influenciando, entre outros aspectos, a organização social.
Vedismo, bramanismo e budismo são algumas das religiões que surgiram na Índia. Vedismo e bramanismo são orientados pelos Vedas, conjunto de escrituras sagradas, composto de quatro livros, que reúnem orações, hinos, poemas, preceitos litúrgicos, fórmulas mágicas, lendas e narrativas. O budismo possui origem distinta, não está relacionado ao vedismo nem ao bramanismo.
Vedismo – antiga religião dos hindus, contava com inúmeros deuses, geralmente interpretado como símbolos de força da natureza, como Agni (deus do fogo) e Indra (deus da tempestade). Baseava-se na força do cosmo e nos textos sagrados (Vedas). Os hindus realizavam sacrifícios orientados por um dos livros que compõem os Vedas (Yajurveda).
Bramanismo – religião que tem sua origem no vedismo. Orientada pelos Vedas, sua doutrina tem como preceitos fundamentais o respeito à ordem cósmica, a obediência ao destino e o dever de pureza, base do sistema de castas. O pensamento religioso do bramanismo tem como princípio o Braman (absoluto, totalidade, supremo), do qual tudo deriva, e os diversos deuses são personificação de seus aspectos. Brahma (criador), Vishnu (conservador) e Shiva (destruidor), que formam a trindade, são os principais deuses. Prega que a alma está sujeita a uma sucessão de vidas e renascimentos (reencarnação), que só se esgota ao atingir o grau supremo de pureza (libertação). Após o surgimento do budismo, o bramanismo sofreu uma série de transformações. A partir do século III de nossa era, o bramanismo passou a ser conhecido como hinduísmo.
Budismo – religião fundada por Sidarta Gautama, no século VI a. C. Seus ensinamentos sintetizam-se nos seguintes temas: nada é permanente, a realidade é mutável e não existe nada que seja indestrutível. Sua doutrina fundamental compreende quatro nobres verdades: a vida é dor; a causa da dor é o desejo; o fim da dor é obtido com o fim do desejo; o fim do desejo é obtido com a prática das regras morais e da disciplina ascética. Em resumo, o budismo apregoa que, enquanto o indivíduo não se liberta do desejo, não está submetido ao ciclo do renascimento.

As origens do budismo

Sidarta Gautama, o Buda (em sânscrito, o Iluminado), nasceu no Himalaia, em 480 a.C. Membro de uma família rica, levou uma vida de jovem nobre até completar 29 anos. Cada vez mais insatisfeito e infeliz por ter uma vida rodeada de luxo, abandonou sua esposa e família e partiu em busca de uma solução para o sofrimento humano.
Contam os indianos que Buda, ao sair pela primeira vez de seu palácio, encontrou a miséria por toda parte, coisa que ele até então não sabia que existia. Iniciou, então uma meditação de 49 dias e alcançou a iluminação, ou seja, o estado de Buda. Passou a pregar seus ensinamentos, que basicamente consiste em superar o desejo para acabar com o sofrimento.
O budismo difundiu-se rapidamente porque a essência de sua doutrina era a salvação daqueles que tivessem uma boa conduta. Ao mesmo tempo, muita gente era contra porque negava o sistema de castas. Além disso defendia os humildes e oprimidos.

Artes e ciências

As artes plásticas indianas, em especial a escultura, são ricas em detalhes e combinam temas religiosos com aspectos da natureza e do amor físico.
Um elemento importante da cultura indiana são as danças, que apresentam uma grande variedade de estilos, refletindo a diversidade de povos, línguas e culturas que convivem no subcontinente.
Com a difusão do budismo, a arte indiana – arquitetura, escultura, pintura, joalheria, cerâmica, tecidos – estendeu-se por todo o Oriente e influenciou a cultura de outras regiões, como a da China e a do Japão.
No campo do conhecimento científico, a Índia destacou-se pela invenção de um sistema de numeração baseada em símbolos – conhecidos hoje como algarismos indo-arábicos,, mas a princípio denominados de arábicos, pois os árabes o divulgaram para o mundo. Os indianos também aprimoraram a idéia do valor posicional dos algarismos – o valor dos algarismos depende da posição que ocupa no número –, assim como inventaram um símbolo para o zero.

2- China

A presença humana na região da China é antiga. Pode ter mais de 500 mil anos. Mas pouco se sabe sobre esse tempo. Informações mais precisas surgiram apenas após o século XVIII a.C.
Nessa época, as comunidades que viviam onde hoje é a China dominavam a fundição do bronze e das ligas metálicas. Essas comunidades, que com o tempo se tornaram principados, estavam organizadas em torno de cidades-palácios, nas quais havia grande divisão social: num extremo, camponeses, que produziam gêneros de subsistência; no outro nobres, que viviam em vilas muradas, os centros militares, comerciais e religiosos.
O rei, considerado Filho de Céu, desempenhava, sobretudo, a função de chefe religioso e incumbia-se das tarefas administrativas. Aos nobres cabia defender o território contra invasões estrangeiras.
A partir do século VIII a.C., o rei foi se enfraquecendo política e militarmente, enquanto os nobres iam se fortalecendo à medida que se tornavam mais independentes. Entre os séculos V e III a.C., surgiram inúmeros conflitos entre os principados.
Em 221 a.C., Qin Shi Huangdi conseguiu um feito inédito, unificou os principados, fundando o Primeiro Império. Adotou então o título de Primeiro Augusto Imperador de Qin.
Durante seu governo (221-210), Qin impôs medidas comuns a todos os principados. A China expandiu suas fronteiras, ultrapassando os limites do vale do rio Amarelo (Huang Ho). O Império Chinês passou a abranger desde a Manchúria até o norte do atual Vietnã.
Durante sua dinastia, Qin comandou a construção da Grande Muralha, que existe ainda hoje. Além disso, implantou um sistema único de escrita e um sistema de pesos e medidas, construiu estradas e canais, mandou drenar zonas pantanosas e ordenou a exploração de florestas.
Qin iniciou também uma dura política de repressão aos opositores. Mandou queimar (213 a.C.) textos e condenou a morte muitos intelectuais. A rígida política imposta pelo imperador provocou revoltas populares e, após sua morte (210), o Primeiro Império desagregou-se rapidamente.
A dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.) procurou dar continuidade à política de Qin e manter sua estrutura administrativa. Para defender-se dos invasores, prolongou a Grande Muralha. Em termos administrativos, recrutou para o serviço público auxiliares independentes dos príncipes regionais, chamados mandarins.
Durante essa dinastia foi aberta a rota da seda, que facilitou o intercâmbio com o Ocidente. O Império Chinês abriu-se, assim, para influências externas.
Por volta do século I d.C., o budismo, originário da Índia, passou a ter influência na sociedade chinesa. Uma crise agrária levou ao fim a dinastia Han.

A sabedoria chinesa

A princípio, existia na china uma religião que concebia o mundo em três partes: o Senhor, no alto, auxiliado por antigos soberanos mortos; os vivos na terra; e os mortos, cujos vultos continuavam a habitar a terra.
No século V a.C., um filósofo de nome Confúcio elaborou uma linha de pensamento que procurava compreender a sociedade de acordo com a natureza. Assim, a filosofia de Confúcio acabou por influenciar a política. De acordo com o confucionismo, a natureza humana não é má; na verdade é um dom do céu que foi pervertido pelo uso indevido do poder. Para harmonizar a sociedade, o soberano deve, portanto, ter um papel moral.
Após o século V a.C., surgiu com Lao-tsé Zhuangzi o taoísmo, uma escola filosófica e ao mesmo tempo religiosa. Segundo Lao-tsé, o tao é um princípio cósmico que dá origem ao universo.

A escrita chinesa

Na escrita chinesa antiga não há palavras formadas por letras e sílabas representando sons. Os textos chineses antigos eram compostos de desenhos que representavam ideias, chamados de ideogramas. Atualmente existem mais de 50 mil ideogramas na escrita chinesa. Muitos deles foram criados há mais de 5 mil anos e sofreram alterações ao longo do tempo.

As artes marciais

As artes marciais, chamadas em chinês de wu shu, existem a mais de 3 mil anos. São utilizadas ainda hoje como exercícios de concentração, defesa pessoal e treinamento militar.
Algumas dessas artes marciais foram criadas e ensinadas em mosteiros por monges que dedicavam boa parte da vida a praticá-las. Com o tempo, os monges passaram a ensiná-las a outras pessoas, ampliando ainda mais os estilos de wu shu. A arte marcial chinesa mais praticada hoje no mundo é conhecida como kung fu.

O comércio

Como em outras civilizações, de início os chineses praticavam o escambo, isto é, a troca direta de mercadorias sem o uso de moedas. Mais tarde, em locais e épocas diferentes, moedas, barras e peças de ouro e de bronze foram usadas nas relações comerciais.
Durante a dinastia Han, os chineses mantiveram um intenso comércio com o Ocidente: tinham interesse especial por vidro, pedras preciosas e perfumes e exportavam principalmente especiarias e seda. Havia diversas rotas de comércio, e dentre elas se destacou a chamada Rota da Seda.
Durante a dinastia Han chegou ao esplendor a Rota ou o Caminho da Seda, que por via terrestre ligava a China ao Oriente Médio: passando pelo atual Afeganistão, pelo Turquestão chinês e pela Índia, chegava à Pérsia. Por ela o Oriente enviava ao Ocidente especiarias e seda e recebia vidro, tecido, tecido, cerâmica e moedas de ouro e prata.


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