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A crise do socialismo no leste europeu

Depois da Segunda guerra Mundial, o socialismo foi implantado também em diversos países da Europa central e oriental. Tornaram-se socialistas naquele período: Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia e parte da Alemanha que ficou sob o controle da União soviética com o nome de República Democrática Alemã ou Alemanha Oriental.

O modelo seguido pela União Soviética era copiado também pelos países vizinhos, ou impostos a eles, criando os chamados países satélites, sobre os quais os dirigentes da União soviética exerciam severa vigilância. O objetivo dessa vigilância era garantir que não se afastassem da linha socialista imposta pelos soviéticos e manter áreas de influência.
Durante a década de 80, os regimes comunistas instalados nos países do Leste Europeu também enfrentaram sérias dificuldades para se conservar no poder. Nesses países, começaram a estourar movimentos populares que reivindicavam o fim da submissão à União Soviética, a ampliação das liberdades políticas e a melhoria da qualidade de vida. Alguns dos países-satélites, em especial Alemanha Oriental, a Polônia e a Tchecoslováquia, alcançaram razoável desenvolvimento econômico, principalmente industrial.
As mudanças que passaram a ocorrer na União soviética a partir de 1985 repercutiram também nesses países, nos quais o socialismo e o regime de partido único foram substituídos pelo pluripartidarismo e por medidas econômicas de caráter capitalista.
Vejamos, a seguir, como isso ocorreu em cada um deles.

Tchecoslováquia: Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo, em 1989, pôs fim ao regime stalinista e à ditadura do partido único. A partir daí ganhou expressão o movimento pala autonomia da Eslováquia. Assim, em janeiro de 1993, a Tchecoslováquia foi dissolvida, desmembrando-se em dois países: a República Tcheca e a Eslováquia.

Polônia: Na Polônia, em meados de 1980, operários de diferentes categorias, liderados por Lech Walesa, organizaram um movimento de grandes proporções contra a política econômica do governo. No desenrolar desse movimento, fundaram o Solidariedade, uma central sindical independente. O governo comunista reprimiu o movimento com violência, prendeu Walesa e proibiu o funcionamento do Solidariedade.
Em 1985, no entanto, pressionado pela Igreja Católica polonesa e pela perestroika que se iniciara na União Soviética, o governo viu-se obrigado a abrandar o regime, libertando os presos políticos e legalizando o Solidariedade.
Em abril de 1989, foi legalizado o sindicato independente Solidariedade e, em junho, o país passou a ser o primeiro do Leste europeu a ter um governo de maioria não-comunista, sob o comando de Tadeusz Manzo Wiecki. No ano seguinte, as reformas econômicas e democráticas avançaram e, em dezembro, o líder sindical Lech Walesa obteve a vitória nas eleições presidenciais.

Hungria: O partido comunista se renovou e adotou o nome de Partido Socialista. Uma ampla privatização da economia e a abertura para a entrada de capital estrangeiro levaram o país a se aproximar do bloco capitalista.

Tchecoslováquia. Sob o comando do intelectual Václav Havel, foi realizada uma abertura política; o sistema passou a ser multipartidário. Em 1991, teve início a privatização da economia; em 1993, atendendo às diferenças étnicas, o país foi desmembrado em duas repúblicas: a Eslováquia e a República Tcheca.

Bulgária: Essa república do bloco soviético era governada por Todor JivKov desde a década de 1950. no final da década de 1980, depois de ficar 35 anos no poder, JivKov entregou o governo a líderes reformistas que seguiam a política de Gorbatchev. As eleições de 1991 foram vencidas pela União das forças democráticas, encerrando o período de hegemonia comunista no poder.

Albânia: A Albânia é um país muito pobre, que foi governado por quatro décadas por Enver Hoxha, um ditador que seguia a linha stalinista de governo. Em 1985, com a morte de Hoxha, teve início um processo de aproximação com o Ocidente, mas que não foi acompanhado de respectivas liberdades políticas. No início da década de 1990, a grave crise social impulsionou greves e manifestações contra o regime autoritário, que acabaram levando o governo a conceder algumas liberdades, inclusive a de formação de outros partidos políticos. Em 1992 o Partido Democrata venceu as eleições acabando com o monopólio até então exercido pelos comunistas. Todavia, as dificuldades em resolver a crise econômica e a fragilidade das instituições políticas têm criado um clima de constante incerteza quanto ao futuro da democracia na Albânia, além de preocupar os países vizinhos, que no final da década de 1990 abrigavam milhares de refugiados albaneses, a maioria em situação irregular.

Romênia: O ditador Nicolae Ceausescu tentou impedir no país, com o uso da força, as reivindicações que varriam os governos totalitários dos países do leste europeu. A sua atitude acabou gerando a mais forte das revoltas ocorridas nos países alinhados à União soviética. Revoltada, a população prendeu e executou em praça pública o ditador e sua mulher. Em 1990, foram realizadas as primeiras eleições livres na Romênia. Ao longo da década de 1990, observamos o crescimento dos partidos políticos anticomunistas.

A reunificação da Alemanha

No final da Segunda Guerra, a Alemanha foi dividida em áreas de influência entre a União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França. Mais tarde, o setor soviético acabou se transformando na República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) e o restante constituiu a República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental).
Posteriormente, as duas Alemanhas conseguiram recuperar-se das enormes perdas materiais que haviam sofrido durante o conflito. No entanto, nos anos 70, já se podia notar uma diferença importante entre elas: enquanto a Alemanha Oriental (comunista) era apenas mais um país desenvolvido, a Alemanha ocidental (capitalista) tinha se tornado um dos países mais ricos do mundo, com uma indústria avançada e uma moeda forte.
Na década seguinte, essa diferença acentuou-se, gerando enorme descontentamento entre os alemães orientais. No segundo semestre de 1989, milhares de alemães-orientais começam a fugir para o Ocidente através da Hungria, que passa a tolerar a passagem de refugiados por suas fronteiras. Em outubro, durante as comemorações de 40 anos da Alemanha Oriental, Gorbatchov exorta o regime de Erich Honecker a efetuar reformas liberalizantes. Os oposicionistas saem às ruas exigindo a democratização e o fim da Stasi, a polícia política.
Em 9 de novembro o governo comunista decide a abertura dos postos fronteiriços e a destruição do Muro de Berlim, precipitando a queda do regime. Em dezembro de 1989 toda a cúpula do Partido Socialista Unificado (comunista) é destituída e logo depois o partido deixa de existir. Uma coalizão entre os partidos Democrata-Cristão, Liberal e Social-Democrata assume o governo. A derrubada do Muro simboliza a reunificação da Europa, o fim da Guerra Fria e a dissolução dos regimes comunistas do Leste Europeu.
Em março de 1990, pela primeira vez desde 1945, foram realizadas eleições com a participação de vários partidos, vencidas pelos democratas-cristãos. Acelerou-se a reunificação das Alemanhas, completada em outubro. Finalmente, em junho de 1991, Berlim voltou a ser a capital da Alemanha reunificada. Na Alemanha (unificada), as dificuldades econômicas e sociais cresceram devido, inclusive, aos elevadíssimos custos da unificação. E o que é pior: essa situação propiciou o ressurgimento de um forte movimento neonazista, cujo ódio racial volta-se agora contra os imigrantes.

Iugoslávia

A Iugoslávia viveu a mais terrível das transições ocorridas no bloco soviético. Formada por seis repúblicas – Bósnia-Herzegovina, Croácia, Sérvia, Macedônia, Eslovênia, Montenegro –, a Iugoslávia manteve-se unida durante quatro décadas. Essa complexa composição étnica manteve-se unida sob o governo de Josip Broz (Marechal Tito), líder de origem croata, que devido ao carisma e habilidade política e apoio aparato militar, conseguiu congregar, num único Estado, toda a diversidade nacional, religiosa e étnica.
A política de integração desenvolvida pelo governo Tito promovia migrações entre as repúblicas, para fortalecer a unidade nacional iugoslava. Depois da morte de Tito, em 1980, e o enfraquecimento da União Soviética, a frágil unidade da federação iugoslava começou a desmoronar. Dessa forma, quando começou o processo de desmembramento das repúblicas, surgiram conflitos entre os nacionais de uma república e os oriundos de outras regiões (por exemplo, os croatas que moravam na Sérvia ou os sérvios que viviam na Croácia.
Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava.
Em 1998, foi a vez de Kosovo, província ao sul da sérvia, lutar por sua independência. O problema na região era mais delicado pelo fato de o território de Kosovo ser considerado berço cultural e religioso para os sérvios. Nos três meses de conflito, que cessaram após a intervenção de tropas da OTAN, uma verdadeira limpeza étnica contra os albaneses - 90% da população de Kosovo - foi promovida por Milosevic, então presidente da antiga Iugoslávia. A partir de 1998, Kosovo passou a ser administrada pela ONU, tendo declarado unilateralmente sua independência em fevereiro de 2008, fato que gerou conflitos diplomáticos ligados ao reconhecimento do novo país.
Em 2003, o nome Iugoslávia deixou de ser adotado. O país passou a se chamar Sérvia e Montenegro. Três anos depois, em referendo popular, os montenegrinos decidiram pela independência da região. Nos dias atuais, portanto, todas as antigas repúblicas que formavam a ex-Iugoslávia são países independentes, incluindo Kosovo.
Quanto a Milosevic, após deixar o cargo, em 2000, foi levado ao Tribunal Internacional de Haia, na Holanda, acusado de cometer crimes de guerra durante os conflitos na Bósnia e em Kosovo. Em março de 2006, o ex-presidente iugoslavo foi encontrado morto numa unidade de detenção do tribunal.

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